quinta-feira, 23 de março de 2017

O MASC PERTENCE AOS ARTISTAS CATARINENSES E AO PÚBLICO QUE OS PRESTIGIA

Crítico de arte do Correio da Manhã – RJ, Jornal do Brasil e da Revista Veja, Harry Laus, que assumiu a direção de nosso Museu de Arte, por indicação das Associações de Artistas Plásticos Catarinenses, transformou o MASC num dos mais importantes museus de arte do país.  Idealizador de projetos e grande incentivador das artes plásticas catarinenses, Harry fez com que durante a sua gestão, o MASC fosse o principal polo irradiador e ponto central da visualidade catarinense.

       Nossos três textos  sobre a atual situação crítica do Museu de Arte de Santa Catarina, tiveram mais de doze  mil visualizações, dezenas de compartilhamentos  e vários comentários de apoio. Isto, por si só, demonstra claramente que ao contrário do que pensam  nossos políticos, a cultura é sim uma preocupação dos catarinenses mais informados.
       Nossos  políticos, com raríssimas exceções,  não possuem hábitos culturais, é praticamente impossível  vê-los  frequentando  museus de arte,  teatros, galerias, concertos ou livrarias. 
       Como não costumam fazer isso, não imaginam que outros o façam, daí    deitam  e rolam encima  das instituições  culturais, que são vistas apenas sob o aspecto de serem mais uma vaguinha para colocar seus apaniguados, que em geral não possuem as mínimas condições técnicas para ocupá-las.
       Acostumados a lidar com o poder de forma imperial,  pensam que ninguém vai questioná-los por não haver interesse no assunto.  Foi exatamente isso o que ocorreu com o MASC.  Só que estavam completamente equivocados. Senão vejamos: se em poucos dias, mais de doze  mil visualizações ocorreram somente nestes artigos que tratam da questão do descaso com MASC, imaginem o estrago  em termos  políticos para quem foi o responsável pela situação. Os internautas  que acessaram nossos textos, não só visualizaram como também manifestaram  apoio as denúncias  neles contidas, inclusive acrescentando   mais alguns fatos absurdos que desconhecíamos. É  fácil deduzir que essas pessoas que leram o texto conversarão  com  outras, e o assunto  fatalmente irá tomando um vulto cada vez maior. A indignação é geral e irrestrita.                                              
        O que fizeram  com o  MASC  foi um deboche sim, e da pior espécie.  Basta lermos os jornais locais.  Por outro lado, para evitar futuros desmandos,  ficarão historicamente registrados nossas denúncias e nossos protestos,  nossos e desse  imenso  público que compartilhou conosco a indignação.  O MASC   pertence por direito aos artistas catarinenses e ao público que os prestigia, esse espaço conquistado a duras penas pelo esforço abnegado e  idealista de gerações e gerações de artistas e intelectuais, não pode virar um feudo de políticos desinformados que colocam quem eles bem entendem  a frente de nossos museus e instituições culturais.
       Nossa luta  não é por motivos  pessoais, mas pela dignidade da cultura catarinense. Tem gente que tem  medo de se pronunciar,  e até  de compartilhar um texto,  para não ser mal visto por quem está no poder. Em termos de cidadania, essa posição é deplorável, pois o poder  emana do povo, e  nosso dever de cidadãos é não calar a respeito dos nossos direitos! Temos que exigir competência,  eficiência e lisura para com a coisa pública. É preciso denunciar os políticos  e os governantes  que fazem mau uso do poder,  extrapolando suas funções  e utilizando-se das pastas que dirigem para fins politiqueiros.  Acham que não precisam  prestar  contas de seus atos a ninguém. Temos que gravar na memória o nome desses que cometeram essas afrontas contra nossas instituições culturais,  como se estas lhes pertencessem. 
             
         O MASC é nosso,  não vamos ceder  jamais, nem aceitar esses absurdos e essas imposições  que desvirtuam e tiram sua razão de ser.  

        O Estado  é uma pedra e só se move sob pressão.  Mesmo que  em relação a gestão do MASC   ocorra a necessária mudança de rumo, que ao que tudo indica, ocorrerá brevemente,  é necessário que a classe artística continue  pressionando, se posicionando  em favor do museu, preocupando-se com seu destino,  e exigindo do poder público que se criem as condições necessárias para que o MASC possa finalmente exercer suas funções não só em termos da capital,    mas que as estenda as demais   regiões do Estado. Só assim, em termos de artes visuais, poderemos ter um desenvolvimento mais homogêneo e consistente.
        Para encerrar essa série de artigos onde o tema central foi o MASC,  vamos transcrever um texto de Harry Laus publicado na edição do Diário Catarinense do dia dois de fevereiro de 1992, há exatamente 25 anos atrás. Que ele sirva de reflexão para todos que amam o MASC  e reconhecem sua importância para a cultura catarinense, e sobretudo para que se sintam estimulados a continuar lutando para que o mesmo venha a ter por parte do governo do Estado de Santa Catarina o apoio e o tratamento  respeitoso que merece:  


“Será necessário lembrar aos artistas de Santa Catarina que o MASC guarda o maior e mais valioso acervo artístico-histórico desse pedaço do Brasil? Será necessário lembrar às diversas associações de artistas plásticos do Estado que esse patrimônio é parte efetiva (e afetiva) de sua própria existência?”

Harry Laus


Parte da equipe do MASC, na qual Harry tanto acreditava e que o ajudaram a fazer nosso museu de arte viver o seu período de ouro. Na foto, em primeiro plano, Nancy Bortolin, que organizou o ‘Indicador da Arte Catarinense’ e  ‘Masc – Biografia de um Museu’, duas publicações referenciais para o estudo de nossa arte.



domingo, 19 de março de 2017

Santa Catarina - Um Estado que Pune o Talento e Exalta a Mediocridade


Instalação de objetos  trançados com fibras vegetais - Berenice Gorini
      Desde os tempos de Cruz e Sousa foi assim! Sem reconhecimento em sua terra natal, teve que enfrentar o calvário que todos conhecem. Ainda hoje, mesmo com o reconhecimento internacional de sua genialidade, não é valorizado como merece em seu Estado,  que deveria ao menos ter  o texto de um de seus imortais sonetos reproduzidos em suas praças e jardins,  até seu busto de bronze roubaram  sem que ninguém desse a mínima por desconhecerem, por certo, sua importância. Seus restos mortais, trazidos com toda a pompa do Rio de Janeiro onde se encontravam, jazem esquecidos ali no palácio que leva seu nome. O memorial  que seria construído para abrigá-los, virou uma ruína abandonada sem condições de cumprir a função para a qual foi construído.
Esses não são fatos isolados,  em seu conjunto falam do menosprezo  com que nossa memória é tratada. É através da criação artística que transparece a alma de um povo, assim ao não valorizarmos o legado artístico de nossos artistas, estamos eliminando também possibilidades  de um conhecimento mais profundo de nós mesmos.
Os exemplos deste descaso são muitos. Citemos o caso de Ivens Machado. Recentemente, o Museu de Arte Moderna do Rio montou uma grande retrospectiva  desse que foi um dos artistas contemporâneos  mais importantes do  país! Por aqui, nem uma única individual dele foi feita  enquanto vivia e Santa Catarina praticamente desconhece   sua obra.
Considerado pela Fundação Bienal de São Paulo, como um dos três artistas catarinenses mais importantes da história da arte brasileira, Ivens só não teve seu talento reconhecido em sua terra natal.
Vontade dele de mostrar aqui seu trabalho não faltou, chegou a falar com um governador que por sinal era seu parente, mas de nada adiantou.  Os argumentos  para não trazerem suas obras, que foram mostradas nos principais centros culturais do país,   foram os mesmos de sempre: falta de verba. Mas sempre  existe dinheiro sobrando para árvores de natal subterrâneas,  corridas de autódromo  e coisas e tais. A cultura para os néscios nunca é uma prioridade, e quando ela é pensada é  sempre de uma maneira equivocada e vão direto para o KITSCH, para o qual nunca falta patrocínio!


Berenice Gorini e detalhes de suas tapeçarias tridimensionais
O ESQUECIMENTO, QUANDO SE TRATA DE MEMÓRIA CULTURAL, É UMA FORMA DE PUNIÇÃO. Vejamos outro caso: Berenice  Gorini, artista catarinense do sul do Estado, foi uma das primeiras tapeceiras brasileiras a encarar a tridimensionalidade. Desenvolveu  uma ampla pesquisa  sobre as técnicas tradicionais dos trançados em palha do litoral catarinense, sobre as quais publicou um livro. Sua obra,  exposta no Museu de Arte de São Paulo e  no Museu Nacional de Belas Artes, faz parte do acervo do Museu de Arte do Rio Grande de Sul que orgulhosamente a inclui entre as obras mais relevantes do acervo. Pois bem, recentemente  foi publicado o segundo volume do livro “Construtores das Artes Visuais”,  uma das raras  edições que abordam  a arte catarinense.  O nome de Berenice Gorini não foi incluído. Segundo  um dos membros da comissão que selecionou os nomes para fazerem parte da edição, o nome de Berenice foi citado mas não foi escolhido porque os demais membros não sabiam de quem se tratava. É bem possível que tenha sido assim,  pois seu  trabalho apesar da sua consagração nacional,  é praticamente desconhecido em SC,  justamente pelos motivos que nos fizeram escrever mais esse texto. Texto  incômodo  mas necessário,  pois talvez assim, um dia, as coisas mudem um pouco.
É urgente  que se criem condições  de organizar retrospectivas que circulem pelo Estado e  permitam aos catarinenses conhecerem  a obra de seus artistas mais relevantes. São também fundamentais  itinerâncias de mostras da  produção contemporânea  de nossos artistas mais jovens.
Essa política deve ser liderada pelo MASC,  ao qual devem ser dadas condições de apoio para que possam ser realizadas.
Santa Catarina é constituída de ilhas culturais, que não se intercomunicam!
Lembro-me de certa ocasião, em que fomos a Chapecó, eu e o então diretor do MASC, acompanhar uma mostra itinerante, e  ouvimos  da plateia  que participava de um debate a procedente acusação:  -Vocês lá de Florianópolis estão de frente para o mar e de costas para Santa Catarina!
Considerando que Florianópolis sedia o Governo Estadual,  é fácil avaliar o quanto essa acusação é grave.   Somos uma das maiores economias do país, isso todo mundo sabe,  o tratamento  dispensado à sua cultura e à sua arte deve ser sério,  competente e proporcional à importância que o Estado possui nacionalmente.
Quando isso acontecer (esperamos que seja o quanto antes), talvez nossos políticos também deixem de ter uma  importância apenas regional. As duas coisas andam juntas, um Estado se afirma em termos nacionais não só pelo seu PIB,  mas principalmente pela forma como trata sua arte e sua cultura, as mais legítimas expressões de  sua alma.
Como nossos textos anteriores deixaram  perceber, é exatamente o contrário que está acontecendo.  Tratando a cultura de forma leviana e irresponsável, entregando   os cargos mais estratégicos de sua gestão  nas mãos de quem não possui as mínimas condições de exercê-los, estamos cada vez mais cavando o fosso profundo que nos afasta da civilização e nos aproxima cada vez mais da barbárie.  Sob todos os aspectos é triste, patético, trágico e profundamente lamentável.
Santa Catarina não merece tamanho deboche. Vamos torcer para que as coisas mudem e tomem  um rumo menos deprimente....


Obra de Berenice Gorini, pertencente ao acervo do MASC.


Objetos de Berenice Gorini, executados na técnica de trançado de fibras vegetais.


 

quarta-feira, 15 de março de 2017

MASC - A Casa da Mãe Joana!

Parte de Obra de Roberta Tassinari, danificado durante mostra no Museu de Arte de Santa Catarina
      
     Mais de dois mil e quinhentos acesos  ao texto em que questionamos a falta de um curador, e de um conselho consultivo para o MASC, são uma clara demonstração de que a comunidade catarinense não está indiferente ao destino de seu mais significativo museu de arte.
    Quando poderia parecer que  a questão se resumia ao fato de não existir nem curador, diretor de arte,  nem muito menos conselho consultivo, uma simples  visita noturna ao museu,  enquanto aguardávamos o início de um espetáculo, deixou-nos mais pasmos ainda! Bem na parede de entrada do MASC, como se obra de arte fosse, fotos de movimentos sociais expostas da maneira mais primária.  Ali estavam, candidamente, como se estivéssemos “adentrando” num salão paroquial ou num centro comunitário de subúrbio.                                                                                Quem autorizou? Quem teve a brilhante ideia? Não se sabe, pois não havia nenhuma explicação para tão grotesco episódio!
    Definitivamente, o MASC deixou de ser um museu de arte respeitável,  e nessa administração virou a ‘casa da mãe joana’. Vamos torcer para que  a nova superintendência da FCC, corrija urgentemente esse desvio de rumo.  Façamos votos para que todos esses episódios deploráveis sirvam de lição para não se lotear mais o MASC e nossos demais museus entre os 'PRs' da vida. 
     O MASC  pertence de direito   aos artistas catarinenses e ao público que os prestigia. Menosprezar a inteligência e a capacidade crítica  desse  público é temerário e leviano.  Ninguém é tão ingênuo e tolo que não perceba o desmonte da cultura catarinense que está sendo feito aos poucos por um governo que, em termos de cultura, só tem os olhos para as feiras agropecuárias. 
     A deliberada   vontade de desprestigiar nossas instituições culturais mais representativas,  transparece nitidamente  através da falta de recursos destinados a instituições importante e vitais como o MASC, e da falta de consideração e dignidade para com a sua história.
    Ludibriado em seus direitos de cidadania,  o público tem toda razão de se manifestar e o faz sempre que tem oportunidade. ESSA É A EXPLICAÇÃO PARA O AMPLO APOIO DOS MILHARES DE INTERNAUTAS QUE VISITARAM NOSSO BLOG. 
    Seria bom se esse assunto incômodo pudesse ser encerrado, mas infelizmente tem outras questões cruciais referentes ao mesmo tema da falta de direção do MASC, e de suas nefastas consequências para a arte e a cultura catarinenses.
    Recentemente, episódios ocorridos  em mostras  que foram selecionadas através do edital, demonstram mesmo que o descaso é total. O primeiro diz respeito a individual do artista criciumense  Janor  Vasconcelos. Janor, aprovado no edital do museu, produziu toda sua individual a partir de um projeto que levou em conta a planta baixa do MASC, enviada aos concorrentes. Sua proposta foi toda pensada em função das características arquitetônicas do MASC, o autor investiu uma quantia considerável na produção de seu especifc-site.  Ao chegar em Florianópolis, já com a exposição  pronta para ser montada, foi avisado que a planta  baixa do museu  havia sido alterada para sediar  a mostra de Juan Miró,  e que resolveram deixar as alterações assim mesmo ignorando solene e  desrespeitosamente  o fato de que a planta original, enviada aos que concorreram ao edital, era outra. 
    O prejuízo do autor foi enorme em todos os termos, desde o tempo e os recursos que   teve que gastar para a execução do projeto, até o  comprometimento do resultado final de sua individual, que teria sido bem outro, se o MASC no mínimo tivesse cumprido com a sua parte.  Janor nos contou que além do enorme prejuízo que teve pelo fato de não ter sido avisado da alteração da planta, ainda foi obrigado a comprar até a tinta necessária para pintar uma parede onde seriam colocados seus desenhos. 
Outra das obras de Tassinari danificadas
     Outra ocorrência gravíssima, que demonstra muito bem como nossa cultura e nossos artistas são tratados por  esses gestores ‘improvisados’, foi a recente exposição de Roberta Tassinari. Uma das mais importantes e talentosas artistas da nova geração, cuja obra começa a despertar o interesse da crítica nacional, teve sete de suas  obras expostas no MASC danificadas por falta de zelo do próprio museu. Duas delas simplesmente caíram da parede e quebraram, sendo que uma delas emprestada por um colecionador foi derrubada por uma criança. A outra, caiu em consequência do desligamento do sistema de climatização do MASC, que foi interrompido durante o recesso do mesmo. Até o momento, não houve nenhuma manifestação por parte da FCC, a qual o MASC se encontra atrelado, no sentido de reparar os danos ocorridos. 
    Por certo, esqueceram-se de ler o edital  das exposições, que afirma  com todas as letras, num de seus artigos, que “...cabe ao MASC a  responsabilidade pela segurança e integridade das obras expostas”. Esses casos que  não  são exceção, são paradigmáticos do que  infelizmente vem acontecendo  no setor cultural, sem que nada seja feito para reverter essa  situação  de desestímulo e retrocesso. É inaceitável que esse descaso e  menosprezo prossigam! Essa situação deve ser por todos repudiada! 


Obra de Roberta Tassinari

quinta-feira, 9 de março de 2017

Morte Anunciada - O melancólico funeral do MASC



Cerca de um ano atrás, a APLASC enviou ao governador do Estado um documento onde manifestava sua preocupação com os destinos do MASC. Recebidos pelo então secretário de turismo e cultura, colocamos a necessidade de que o administrador do Museu de Arte de Santa Catarina, pelo fato de não existir no quadro funcional desta entidade a função de curador ou diretor de arte, fosse alguém capaz de exercer estas funções múltiplas e não apenas um gestor. Portanto, o nome indicado para ‘administrador’ teria que ser necessariamente alguém tecnicamente capacitado para exercer  um cargo de tão vital importância para as artes visuais catarinenses.  No caso do MASC, assim como de outras entidades congêneres, não se trata simplesmente de nomear um  gestor qualquer, mas sim de ter o bom senso e responsabilidade de  escolher um nome capacitado, com formação e atuação na área e que tenha o aval da classe artística.
O MASC, pela seriedade e nível de sua atuação, tem sido historicamente o principal parâmetro para a arte catarinense. É ele que sinaliza, tanto para os jovens como para o público em  geral, aquilo que existe de mais relevante em nossa visualidade. Num depoimento que integra a publicação ‘Memórias de um Museu’, o próprio  crítico Nelson Aguilar, que já foi curador da ‘Bienal de São Paulo’, afirma que “..o MASC é o nosso Cabo Canaveral, é ele que mostra para nós aqui de São Paulo o que está sendo feito de mais significativo lá em Santa Catarina”.
Como a própria história do MASC, construída através do esforço de gerações de abnegados  comprova, estamos  diante de uma instituição de reconhecimento nacional que, pela sua importância, não merece ser tratada com tanto menosprezo pelo poder público, que  se recusa a ouvir a voz da classe artística catarinense, que já se pronunciou a respeito através de suas principais  representações, sem que nada fosse feito.
E o que temíamos aconteceu...:
Nesse período lamentável, em que o MASC permaneceu a deriva, sem curador, e o que é ainda mais grave, sem sequer um conselho consultivo atuante, o MASC  foi gradualmente perdendo sua capacidade de exercer plenamente suas funções básicas. Sem uma política de atuação consistente, o MASC transformou-se numa simples galeria de arte que intercala mostras  sem um fio condutor que as explique. Desapareceram, sem deixar rastro, as itinerantes que davam visibilidade a produção catarinense, o ‘Salão Victor Meirelles’, que alcançou renome nacional e foi  simplesmente ignorado por uma gestão desastrosa  da política cultural, que feriu de morte a arte catarinense cada vez mais desestimulada e entregue à própria sorte. Mas apesar de tudo, o MASC, mesmo aos ‘trancos e barrancos’, sem apoio, e  atrelado a  diretoria de artes   da FCC (que nada faz a não ser pronunciar as mesmas desculpas de sempre), ainda mantinha uma certa dignidade, observando determinações já acordadas em gestões  anteriores, de submeter ao conselho consultivo qualquer proposta apresentada no sentido de utilização do espaço expositivo do museu. É absolutamente inconcebível em qualquer  museu civilizado do mundo que não exista a figura de um curador e de um conselho consultivo. MAS AQUI NESSA TERRA DE NINGUÉM, TUDO PODE. Não é de hoje que não se dá  a mínima para a arte e a cultura catarinense, mas nos últimos anos a coisa chegou ao paroxismo, parece até uma provocação  e um deboche! Os políticos não estão ‘nem aí’ para nada! Muito menos para com as questões culturais. Ficam até tranquilos em relação a isso,  pois alegam que cultura não dá voto. Pode até não dar, mas que tira, tira!, e muito mais do que pensam. Afinal, os intelectuais e os artistas estão entre os principais formadores de opinião, logo...
Mas vamos ao que interessa:
Conforme dissemos acima, o que temíamos aconteceu, e o desastre é tal que colocará por terra décadas e décadas de trabalho e dedicação de gerações de artistas e intelectuais,  que desde a criação do MASC nos anos quarenta pelos integrantes do Grupo Sul, se posicionaram corajosamente contra  a  mediocridade,  a breguice,  o marasmo e o atraso cultural provincianos.
Mais de meio século depois, tudo volta a estaca zero, o MASC  será melancolicamente sepultado na data do seu próprio aniversário, ao som de um Réquiem bizarro  e grotesco.
Explico-me: Fomos procurados, há uns meses atrás, por uma artista que queria que  escrevêssemos    o texto do catálogo para uma mostra que ocuparia todo o espaço do MASC.  Perguntamos se a proposta tinha passado pelo conselho consultivo do museu.  A artista achava que sim, pois já tinha obtido o aval do administrador, e é aí que começa a tragédia, pois nem existe mais  o tal conselho consultivo.
Sem pé nem cabeça, mal alinhavada, e de uma pobreza conceitual  constrangedora, a proposta que nos foi apresentada é o  próprio ‘Samba do Crioulo Doido’, pretensiosa   e totalmente equivocada. Mistura num mesmo espaço, uma profusão de elementos disparatados  que dariam no mínimo um macabro parque temático. O resultado final  lembra uma daquelas amadorísticas feiras de ciência de colégios.
      Seria  fastidioso relatar detalhe por detalhe do projeto, mas vamos tentar resumir...
      A grande opereta tragicômica, começa com uma procissão onde a autora rodeada de um grupo de criancinhas recobertas de barbotina, “adentra (sic) o espaço expositivo recoberto de bolas azuis e brancas, que se espalharão pelo teto e pelo chão do CIC, ao som de uma respiração ‘ofegante’”. Após essa entrada triunfal,  “as criancinhas desaparecerão  discretamente”. – Sinceramente...
Mas a coisa não para por aí, pois isso é só o começo. Na sequência, haverá um tapete de carvão e gravetos que conduzirá ao local onde quarenta artistas pintarão cada qual suas  árvores, que posteriormente serão transformadas numa floresta flamejante, recobertas com uma tinta “misteriosa sugerindo chamas”.
O entretenimento será completado por uma série de selfies,  transmitidos on-line para uma sala,  onde o público poderá   assistir      a frutificação das arvores através das selfies, onde os artistas exercerão sua ”criatividade e seu gênio”.  NOSSA!!!
Um Totem gigante de papel, assustadores cavaleiros do apocalipse com rabos de cerâmica confeccionados por ceramistas que “abrilhantarão” o evento, dão sequência ao circo burlesco que tem seu ponto culminante no ”SANTUÁRIO”...
 Preparem-se: Em altares de vidro, fragmentos de pele humana (isso mesmo!), provenientes de cirurgias plásticas estarão expostas,  rodeando um grande espelho central. No chão, uma mistura desconexa de frases que incluem de trechos da carta aos Gálatas de São Paulo a frases da própria autora.
      Tem mais ainda, numa sala estarão  misturadas fotos de tumores  cancerígenos obtidos numa clínica que trata de câncer de pele,  misturadas à fotos da pedra sobre a qual se assenta a ilha de Santa Catarina.
        Haverá também outras “surpresas”, tais como perfumes, alegorias ao micro e macro cosmos, e desenhos,  um deles, executado nas próprias paredes do MASC, representa  uma árvore opulenta, cujo confuso  emaranhado gráfico é uma clara indicação de que o mau gosto começa pelo excesso.
A instalação e a performance são linguagens que necessitam de um grande domínio por parte do artista para poderem  alcançar seus objetivos. Quem não está habilitado pelo conhecimento, pelo talento e pela prática acaba caindo na gratuidade ou mesmo no ridículo.
Uma instalação não é uma vitrine, uma cenografia, nem muito menos um parque temático.  As imagens e metáforas  utilizadas pela arte não  devem nem podem ser explícitas, seu recado é dado através da ambiguidade e da capacidade criadora do artista, cuja função jamais deve ser óbvia, didática ou edificante.
Falamos sobre toda essa problemática  com a autora, mas foi inútil. Ela dirigiu-se a atual direção da Fundação Cultural, que impôs a proposta ao MASC pelo simples fato de a mesma já ter patrocínio garantido e de o Museu de Arte estar sem recursos para fazer absolutamente nada.
    Não é desculpa! Poder-se-ia,  de forma muito mais digna e não comprometedora, mostrar por exemplo o acervo de obras tridimensionais do MASC, proposta que aliás fizemos ao atual administrador, que a viu com bons olhos, mas teve que se curvar a “instâncias superiores”.
Um detalhe é que a mostra que estamos questionando não tinha até o momento em que nos foi apresentada nem ao menos um curador, e mais grave, para      tentar  obter nossa  adesão foi usado o nome de uma colega também crítica, que segundo a autora teria indicado os nomes dos quarenta artistas que pintarão a ‘floresta flamejante’ e escreveria o texto de apresentação da mostra.
Felizmente  essa colega, que vem desenvolvendo um trabalho sério  e consistente em prol da arte catarinense, informou-nos que não é verdadeira a versão de que seu nome  estaria fazendo parte deste evento equivocado, que no intuito de comemorar o aniversário do MASC, compromete toda uma reputação conquistada pela atuação brilhante de nossos principais criadores, e de intelectuais do porte de um Carlos Humberto Correia, Harry Laus,  José Silveira D’Ávila e tantos outros que tudo fizeram para conferir ao MASC a credibilidade que possui hoje, e que infelizmente encontra-se  fortemente ameaçada pela falta de discernimento dos atuais gestores.
O pior é que agora  provavelmente aparecerá uma enxurrada de propostas   desqualificadas, do mesmo teor ou até piores, pois o que importa pelo visto é apenas que elas já tenham patrocínio garantido. A porteira, portanto,  está aberta... - APROVEITEM!
Se a FCC  não respeitar o fato de que as mostras do MASC tem  que ter obrigatoriamente como premissa básica o aval do conselho consultivo,  estará decretada a falência dessa instituição que está entre as mais  respeitadas do Estado.
É necessário que se recrie imediatamente essa comissão com nomes escolhidos pelo seu preparo técnico, atuação profissional, formação intelectual e credibilidade junto à classe artística catarinense.                                                        É de todo inconcebível que passado mais de um ano isso ainda não  tenha sido feito. Os fatos comprovam que, sem um timoneiro adequado, qualquer embarcação naufraga e sucumbe no mar da mediocridade reinante, e é exatamente isso que ocorrerá com o MASC,  se a classe não pressionar a FCC para que a mesma  respeite e prestigie de fato nosso mais importante  museu de arte.
Esquecemo-nos de dizer, o” grand finale”  da exposição se dá com a frase ‘O silêncio tem um silvo’. Escrita em  maiúsculas sobre as paredes do MASC, não consegue  esconder, e apenas explicita e enfatiza, em sua pretensão, o seu vazio conceitual.
Sinceramente, o MASC poderia ser poupado deste pastiche.  Mas tudo é possível em se tratando do menosprezo à arte e à cultura aqui nesta SUCUPIRA DO SUL.