quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

A dinâmica luminosidade cromática das monotipias de Fávia


Flávia Fernandes faz parte da geração de artistas paulistanos que, nos anos oitenta, vieram residir na ilha de Santa Catarina, em busca de uma melhor qualidade de vida.
Morou inicialmente na Costa da Lagoa, onde traduziu a exuberante natureza local numa série de pinturas sobre tela. Com as características da nova figuração praticada nos anos oitenta, essas pinturas abordavam temas que refletiam a alegria de viver em meio a um ambiente ainda  natural e harmônico.  Predominavam em sua paleta tons quentes e sensuais: ocres, amarelos, laranjas e vermelhos. Entremeados a nuances de azuis e tons terrosos, criavam uma atmosfera de grande força telúrica, força essa que vai permanecer em praticamente todas as suas outras fases.
Expandindo  suas  indagações, criou inicialmente recortes de madeira, encaminhando-se gradualmente para uma linguagem poética,  que através de estímulos sensoriais, busca uma empatia com o observador, visando redimensionar sua percepção das coisas e do mundo.
Numa outra série de trabalhos denominada “pinturas moles”, criou volumes de tecidos acolchoados  de diferentes texturas. O forte apelo tátil-visual dessas obras,  mobiliza  a atenção do espectador,  fazendo com que o olhar deslize pelas inusitadas superfícies que por vezes recorrem também à pintura.
Notáveis também são os objetos-instalação que a artista desenvolveu com  plástico inflável. Preenchidas com água, essas  formas, que ora sugerem orgânicas águas-vivas, ou imensos colchões d´água,  propiciam singulares vivências sensoriais.
Paralelamente a sua criativa pesquisa de materiais e linguagens, Flávia  manteve sempre um contínuo e profícuo contato com a gravura em metal, uma de suas paixões. 
Atualmente, desenvolve séries de monotipias, que se destacam pelo vibrante campo cromático obtido através da justaposição de várias prensagens de  cores transparentes. A condensação espacial dessas justaposições, proporciona uma dimensão dinâmica e um efeito de luminescência, como se do interior das gravuras emanasse uma  luz quase sublime.
Flávia já fez uma residência num mosteiro zen. Por certo, essa vivência levou-a a aprofundar suas percepções da vida e do universo em toda sua amplitude e mistério.
A fruição plena de sua obra pressupõe uma sensibilidade particular, capaz de captar e ouvir o que tem a nos dizer cada detalhe ou estímulo sensorial proposto pela artista. 
Plenamente realizadas, suas monotipias são obras que não carecem  de explicativas que estejam fora de seu campo de ação.
Mas, se atentarmos bem, encontraremos ressonâncias de mares, terras, pedras, água, ventos, céus e florestas. Ressonâncias que soube muito bem filtrar e transformar em componentes  de sua própria poética.