Flávia Fernandes faz parte da geração
de artistas paulistanos que, nos anos oitenta, vieram residir na ilha de Santa
Catarina, em busca de uma melhor qualidade de vida.
Morou inicialmente na Costa
da Lagoa, onde traduziu a exuberante natureza local numa série de pinturas
sobre tela. Com as características da nova figuração praticada nos anos
oitenta, essas pinturas abordavam temas que refletiam a alegria de viver em
meio a um ambiente ainda natural e
harmônico. Predominavam em sua paleta
tons quentes e sensuais: ocres, amarelos, laranjas e vermelhos. Entremeados a
nuances de azuis e tons terrosos, criavam uma atmosfera de grande força
telúrica, força essa que vai permanecer em praticamente todas as suas outras
fases.
Expandindo suas indagações,
criou inicialmente recortes de madeira, encaminhando-se gradualmente para uma
linguagem poética, que através de
estímulos sensoriais, busca uma empatia com o observador, visando redimensionar
sua percepção das coisas e do mundo.
Numa outra série de trabalhos
denominada “pinturas moles”, criou volumes de tecidos acolchoados de diferentes texturas. O forte apelo
tátil-visual dessas obras, mobiliza a atenção do espectador, fazendo com que o olhar deslize pelas inusitadas
superfícies que por vezes recorrem também à pintura.
Notáveis também são os objetos-instalação
que a artista desenvolveu com plástico
inflável. Preenchidas com água, essas formas, que ora sugerem orgânicas águas-vivas, ou
imensos colchões d´água, propiciam
singulares vivências sensoriais.
Paralelamente a sua criativa
pesquisa de materiais e linguagens, Flávia
manteve sempre um contínuo e profícuo contato com a gravura em metal, uma
de suas paixões.
Atualmente, desenvolve séries de monotipias, que se destacam
pelo vibrante campo cromático obtido através da justaposição de várias
prensagens de cores transparentes. A
condensação espacial dessas justaposições, proporciona uma dimensão dinâmica e
um efeito de luminescência, como se do interior das gravuras emanasse uma luz quase sublime.
Flávia já fez uma residência
num mosteiro zen. Por certo, essa vivência levou-a a aprofundar suas percepções
da vida e do universo em toda sua amplitude e mistério.
A fruição plena de sua obra
pressupõe uma sensibilidade particular, capaz de captar e ouvir o que tem a nos
dizer cada detalhe ou estímulo sensorial proposto pela artista.
Plenamente
realizadas, suas monotipias são obras que não carecem de explicativas que estejam fora de seu campo de ação.
Mas, se atentarmos bem,
encontraremos ressonâncias de mares, terras, pedras, água, ventos, céus e
florestas. Ressonâncias que soube muito bem filtrar e transformar em
componentes de sua própria poética.