Gado no Pasto na Neve- Saulo Falcão |
Dentre as mil e quatrocentas obras inscritas na
décima terceira edição da BIENAL NAIFS DO BRASIL 2016, promovida
pelo SESC PIRACICABA SP, foram selecionadas cem, sendo uma delas de autoria de Saulo Falcão,
artista outsider nascido em Santo Antônio de Lisboa e lançado pela Casa
Açoriana, que acompanha todo seu
percurso tendo inclusive realizado uma mostra individual de seus trabalhos em
2016.
A Bienal, apresentada
inicialmente no SESC Piracicaba, foi, devido
ao sucesso, remontada desde abril no SESC Belenzinho da capital paulista, onde permanecera
exposta até julho próximo.
Como artistas convidados
participam da Bienal da qual Saulo faz parte,
os artistas: VOLPI, CICERO DIAS, DJANIRA, GUIGNARD, FLAVIO DE CARVALHO,
VANIA MIGNONI, JORGE GUINLE, MONTEZ MAGNO,
JOSÉ CLAUDIO e vários ouros nomes de igual importância.
A pintura de Saulo intitulada Gado no Pasto na Neve foi incluída no módulo Pictórico da Bienal,
definido pela curadoria como representativo
do “desejo pela pintura que se interpõe a narrativa e que desejante,
delira.”
Diagnosticado na adolescência
como esquizofrênico, Saulo começou a
pintar a cerca de dez anos, quando através da Casa Açoriana teve acesso aos
pincéis, telas e tintas. Sua produção inicial dividia a tela em planos sobre os
quais aplicava as cores chapadas com limites geométricos bem precisos. Aos
poucos foi cobrindo as superfícies com sobreposições de pinceladas gestuais de
forte carga expressiva
deixando-se cada vez mais levar por aquilo que no livro catálogo da Bienal foi definido como ‘O
desejante da pintura’. Quando se deseja, deseja-se o todo da cor, da tinta,
da massa, do escorrimento, do volume, da
superfície, do espaço.
Dando vazão, através da arte, as imagens, símbolos, memórias, sonhos, fantasmas
e fantasias interiores, Saulo conseguiu, de certa forma, reorganizar o caos de
seu mundo interior, conturbado e
desestruturado pela doença. Parou de ouvir as vozes que o atormentavam e de ter
os delírios alucinatórios frequentes que
acometiam sua mente perturbada.
Saulo Falcão frente a seus trabalhos em sua primeira individual. |
O vigor e a desinibida
expressividade de sua arte, indômita e furtiva, como uma criatura selvagem, incluem
sua pintura no que se convencionou chamar de “ART BRUT”, um tipo de arte que
segundo o artista francês Jean Dubuffet “é
uma arte que nasce da pura invenção e que jamais se baseia, como faz a arte
cultural com frequência, em processos que evocam o camaleão o papagaio. “
O impulso primordial do homem de
observar, criar e desenvolver seu vocabulário visual pessoal, atestado por ações que vão desde as pinturas rupestres
das cavernas até os grafites anônimos
dos muros de nossas cidades, enfatizado
pela Arte Bruta, levou Jean Dubuffet e os críticos André Breton e Michel Tapié a fundarem em 1948 a Compagnie
de l´ Art Brut, com o objetivo de
colecionar e estudar esse tipo de arte que até então existira paralelamente ao
mundo oficial da arte.
A ênfase dada por Dubuffet á fonte intuitiva e primordial da arte foi
compartilhada por figuras associadas à arte informal, ao expressionismo
abstrato e ao grupo Cobra.
Um dos integrantes do Cobra, que
dissolveu-se em 1951, o belga holandês Corneille chegou a vir a Santa Catarina anos mais tarde, para conhecer pessoalmente a artista brut Eli Heil, da qual adquiriu obras, deixando registrado no livro de
presenças da artista um texto onde a considerou como uma irmãzinha menor de Van Gogh.
As buscas da completa liberdade de expressão, e
da necessidade primordial do homem de expressar seus desejos, fossem eles belos
ou violentos, celebrantes ou catárticos, que fizeram Dubuffet interessar-se
por pinturas, desenhos e esculturas feitas por pessoas sem treinamento
em arte a salvo das convenções sociais, da formação acadêmica e portanto livres
para criarem obras de verdadeira expressividade, compartilhadas depois pelos integrantes do Cobra, deram de certa
maneira continuidade ao projeto iniciado pelos surrealistas, no sentido de
liberar o inconsciente e de subtrair-se ás influências "civilizadoras" da arte.