Fotos da matéria: Matheus Rosa |
Essa citação de um poema do
saudoso Lindolf Bell, aplica-se sob medida ao que está acontecendo no Centro
Cultural Nau Catarineta, de Santo Antônio de Lisboa.
No pequeno e aconchegante espaço
transformado no Bachus Cavea (plateia de Baco), Luiza Lorenz, com espírito
empreendedor e capacidade inigualável de vencer
dificuldade, lançou-se de corpo e alma na realização de seu sonho, e a
realidade ai está: Praticamente do nada surgiu um dos espaços cênicos mais
deliciosos da ilha. Numa pequena construção localizada no fundo do quintal da Casa Açoriana ali está funcionando
a pleno vapor a concretização de um
sonho. Construído com as vigas seculares de madeira (linhas) do antigo sobrado
que já recebeu numa gloriosa manhã a visita do imperador D Pedro ll, em sua
visita a Sto. Antônio em 1845, a casinha com suas paredes de tijolo aparente
pintadas de preto manteve apenas a empena atrás do palco com os tijolos de terracota
na cor natural do barro. Na parede lateral de frente para quem entra, dois
painéis construídos com garrafas verdes
ou azuis funcionam como um original vitral Preenchidas com lâmpadas de
pisca-pisca, criam efeitos de grande beleza lembrando as propostas da arte
cinética.
Assim é o BACCHUS CAVEA, simples,
austero, mágico e com a cara do que tem de melhor nessa ilha dos casos raros.
Para inaugurar a temporada do
teatro de Sto. Antônio, nada melhor que o espetáculo do repertório do Cia Aérea
MEMÓRIAS DO HOMEM DE ARGILA CRUA, que
apresenta ao público de maneira poética
e cativante a vida e a obra do nosso maior mitólogo Franklin Cascaes,
cujas pesquisas extrapolaram o meio acadêmico e acabaram por rebatizar sua
terra natal como a ILHA DA MAGIA. Esse espetáculo que estreou em Buenoe Aires
onde foi montado, é, sem dúvida, uma das mais bem sucedidas abordagens da obra
de CASCAES. Com um grupo de atores
afinadíssimos, que no palco executam movimentos precisos e interpretações
inesquecíveis, a montagem, com seu ritmo feérico, chega a parecer uma dança tal
a precisão das marcações quase coreográficas. É um espetáculo divertido,
poético e bastante profundo em suas reflexões que incluem citações de Ortega y
Gasset e de outros pensadores entremeadas a pensamentos do próprio Cascaes a
respeito da vida e da arte.
A montagem começa e termina com o
som das marolas que embalam a ilha, os atores como que despertando de um
sonho vão aos poucos mostrando ao público através de suas falas quem foi
Cascaes. Reproduções perfeitas de suas peças em cerâmica são mostradas,
reproduzindo os principais personagens arquetípicos da ilha. De um antigo baú vão sendo retiradas as figuras
mitológicas das bruxas medievais e a peça ganha todo um clima mágico bruxólico que permanecera até
o final. Além das bruxas, são apresentadas aos espectadores as obras gráficas
inspiradas no mito dos boitatás. Os desenhos deslumbrantes de Cascaes vão sendo
pendurados num varal, colocado ao fundo
do espaço cênico, servindo de cenário, juntamente com as peças cerâmicas que
ficaram apoiadas nas malas e caixas,
principais objetos cênicos das quais saem inclusive as ervas medicinais
expostas num sugestivo mostruário que
lembra antigas estampas de boticários.
Tudo neste espetáculo foi pensado
com extremo requinte e sensibilidade e o resultado não poderia ser outro. Memórias
de um Homem de Argila Crua é uma verdadeira obra prima que enaltece a cultura
da Ilha de Santa Catariana naquilo que ela tem de melhor e mais genuíno. O
espetáculo permanecerá em cartaz todos os sábados de janeiro e fevereiro, às
20.30 horas no teatro BACCHUS CAVEA, que faz parte do Centro Cultural NAU CATARINETA, ancorada ao lado da CASA AÇORIANA de Sto. Antônio de
Lisboa.
Quem ama nossa ilha ou quem quer conhecê-la melhor, não deve
perder sob nenhum pretexto! Pena que
nossas autoridade em geral sejam tão alienadas e cegas em relação a arte e a
cultura, pois esse espetáculo deveria ser apresentado em todas as escolas e
colégios da ilha para que nossas crianças e jovens conhecessem a riqueza que
temos em nossas origens.
Mas já é pedir demais, pois só um milagre poderia abrir os olhos dessa
gente no poder..Da nossa parte fazemos o que podemos e o que está ao nosso
alcance. Luiza, tirando praticamente do nada, fez surgir esta NAU. Com apoio magnânimo de seu tio Tales
Biesczad montou a estrutura básica do teatro que teve também apoio de membros
da comunidade de Sto Antônio, como por exemplo do amigo Aldo Pereira, que fez voluntariamente toda a instalação
elétrica da casa. São gestos assim que
fazem possível os sonhos virarem realidade. Cascaes e sua obra estão sendo
mostradas no lugar certo, temos certeza de que ele ficaria muito feliz e realizado
se visse como sua obra continua viva e plena de significados. Movidos pela
paixão e pelo amor ao teatro Luiza, Margo e Egon, os três magníficos atores da
peça, levam o público ao cerne da obra desse genial criador que ao propor o
triunfo do imaginário e da sensibilidade
nos acena com uma possibilidade de não naufragarmos em meio a tanta apatia e
mediocridade .
EVOÉ BACO - CANTEMOS COM LINDOLF BELL, CASCAES E CIA
AÉREA: MENOR QUE MEU SONHO NÃO POSSO SER!