sábado, 27 de janeiro de 2018

MENOR QUE MEU SONHO NÃO POSSO SER: Memórias do Homem de Argila Crua

Fotos da matéria: Matheus Rosa
Essa citação de um poema do saudoso Lindolf Bell, aplica-se sob medida ao que está acontecendo no Centro Cultural Nau Catarineta, de Santo Antônio de Lisboa.
No pequeno e aconchegante espaço transformado no Bachus Cavea (plateia de Baco), Luiza Lorenz, com espírito empreendedor e capacidade inigualável de vencer  dificuldade, lançou-se de corpo e alma na realização de seu sonho, e a realidade ai está: Praticamente do nada surgiu um dos espaços cênicos mais deliciosos da ilha. Numa pequena construção localizada no fundo do  quintal da Casa Açoriana ali está funcionando a pleno vapor  a concretização de um sonho. Construído com as vigas seculares de madeira (linhas) do antigo sobrado que já recebeu numa gloriosa manhã a visita do imperador D Pedro ll, em sua visita a Sto. Antônio em 1845, a casinha com suas paredes de tijolo aparente pintadas de preto manteve apenas a empena atrás do palco com os tijolos de terracota na cor natural do barro. Na parede lateral de frente para quem entra, dois painéis construídos  com garrafas verdes ou azuis funcionam como um original vitral Preenchidas com lâmpadas de pisca-pisca, criam efeitos de grande beleza lembrando as propostas da arte cinética.
Assim é o BACCHUS CAVEA, simples, austero, mágico e com a cara do que tem de melhor nessa ilha dos casos raros.
Para inaugurar a temporada do teatro de Sto. Antônio, nada melhor que o espetáculo do repertório do Cia Aérea MEMÓRIAS DO HOMEM DE ARGILA CRUA, que  apresenta ao público de maneira poética  e cativante a vida e a obra do nosso maior mitólogo Franklin Cascaes, cujas pesquisas extrapolaram o meio acadêmico e acabaram por rebatizar sua terra natal como a ILHA DA MAGIA. Esse espetáculo que estreou em Buenoe Aires onde foi montado, é, sem dúvida, uma das mais bem sucedidas abordagens da obra de CASCAES.  Com um grupo de atores afinadíssimos, que no palco executam movimentos precisos e interpretações inesquecíveis, a montagem, com seu ritmo feérico, chega a parecer uma dança tal a precisão das marcações quase coreográficas. É um espetáculo divertido, poético e bastante profundo em suas reflexões que incluem citações de Ortega y Gasset e de outros pensadores entremeadas a pensamentos do próprio Cascaes a respeito da vida e da arte.
A montagem começa e termina com o som das marolas que embalam a ilha, os atores como que despertando de um sonho  vão aos poucos mostrando  ao público através de suas falas quem foi Cascaes. Reproduções perfeitas de suas peças em cerâmica são mostradas, reproduzindo os principais personagens arquetípicos da ilha. De um  antigo baú vão sendo retiradas as figuras mitológicas das bruxas medievais e a peça ganha todo  um clima mágico bruxólico que permanecera até o final. Além das bruxas, são apresentadas aos espectadores as obras gráficas inspiradas no mito dos boitatás. Os desenhos deslumbrantes de Cascaes vão sendo pendurados num varal,  colocado ao fundo do espaço cênico, servindo de cenário, juntamente com as peças cerâmicas que ficaram apoiadas nas malas e caixas,  principais objetos cênicos das quais saem inclusive as ervas medicinais expostas num  sugestivo mostruário que lembra antigas estampas de boticários.
Tudo neste espetáculo foi pensado com extremo requinte e sensibilidade e o resultado não poderia ser outro. Memórias de um Homem de Argila Crua é uma verdadeira obra prima que enaltece a cultura da Ilha de Santa Catariana naquilo que ela tem de melhor e mais genuíno. O espetáculo permanecerá em cartaz todos os sábados de janeiro e fevereiro, às 20.30 horas no teatro   BACCHUS CAVEA,  que faz parte do Centro Cultural NAU  CATARINETA, ancorada  ao lado da CASA AÇORIANA de Sto. Antônio de Lisboa.
Quem ama nossa ilha  ou quem quer conhecê-la melhor, não deve perder sob nenhum pretexto!  Pena que nossas autoridade em geral sejam tão alienadas e cegas em relação a arte e a cultura, pois esse espetáculo deveria ser apresentado em todas as escolas e colégios da ilha para que nossas crianças e jovens conhecessem a riqueza que temos em nossas origens.
Mas já é pedir demais, pois  só um milagre poderia abrir os olhos dessa gente no poder..Da nossa parte fazemos o que podemos e o que está ao nosso alcance. Luiza, tirando praticamente do nada, fez surgir esta  NAU. Com apoio magnânimo de seu tio Tales Biesczad montou a estrutura básica do teatro que teve também apoio de membros da comunidade de Sto Antônio, como por exemplo do amigo Aldo Pereira,  que fez voluntariamente toda a instalação elétrica da casa. São gestos assim  que fazem possível os sonhos virarem realidade. Cascaes e sua obra estão sendo mostradas no lugar certo, temos certeza de que ele ficaria muito feliz e realizado se visse como sua obra continua viva e plena de significados. Movidos pela paixão e pelo amor ao teatro Luiza, Margo e Egon, os três magníficos atores da peça, levam o público ao cerne da obra desse genial criador que ao propor o triunfo  do imaginário e da sensibilidade nos acena com uma possibilidade de não naufragarmos em meio a tanta apatia e mediocridade .
EVOÉ BACO  -  CANTEMOS COM LINDOLF BELL, CASCAES E CIA AÉREA: MENOR QUE MEU SONHO NÃO POSSO SER!





domingo, 14 de janeiro de 2018

ROBSON LEAL – LUZ FORMA E FUNÇÃO.




Quem visitar a Galeria da Casa Açoriana nesta temporada de verão, irá surpreender-se com os trabalhos de autoria do designer Robson Leal.
Nascido em Tijucas, ele já expôs suas peças no Shopping Iguatemi onde vendeu quase a totalidade da mostra. Suas criações não são simplesmente luminárias, mas sim obras de arte surreais que unem o utilitário a uma mirabolante criatividade que apaixona, surpreende e encanta ao primeiro olhar. A beleza e originalidade dessas luminárias construídas através de encaixes de materiais reciclados garimpados em ferro velhos, depósitos de usados, e nas andanças do autor pelo mundo, expressa com sua estética out-sider nada convencional, o imaginário do artista, sua insatisfação com as prosaicas limitações do cotidiano e sua busca de elaborar uma linguagem própria que descubra novos significados para coisas já existentes. 
A arte é sem dúvida o meio mais eficiente para ressignificar coisas, objetos e a própria existência, e foi a ela que Robson se dedicou de corpo e alma nestes dois últimos anos para encontrar sua própria resposta para esse não sentido do dia-a-dia banal. As inventivas criações desse insólito designer são assemblages que misturam diversos elementos interconectados de forma inusitada. O resultado dessas montagens são composições de grande coerência, unidade formal e surpreendente beleza.
O gosto do autor pela botânica transparece em alguns detalhes que sugerem formas orgânicas como gavinhas, sementes, flores, troncos e galhos retorcidos. Esses materiais acoplados a lâmpadas, especialmente selecionadas, criam o clima das peças que se organizam espacialmente, criando ritmos e linhas harmônicas e elegantes. No espaço da Galeria a meia luz, as formas destacam-se ainda mais pelas luzes coloridas das originalíssimas luminárias, criando uma atmosfera divertida, lúdica e magica.





Com seus detalhes inumeráveis, que incluem antigas peras, tubos de ensaio, barômetros, peças de bijuteria, pesos de vidro, sementes, controles remotos, mecanismos de relojoaria, contadores manuais, dimers e toda uma inimaginável parafernália de peças, o conjunto escultórico funciona como uma lúdica e poética instalação luminosa que celebra o triunfo da imaginação, da criatividade e do talento: