terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Ricardo Ramos - Um artista singular




         A mostra  Sobrevoo,  que Ricardo Ramos apresenta na galeria do Museu Cruz e Sousa, reúne trabalhos das duas fases mais marcantes de sua trajetória. Numa delas, estão reunidas as releituras pós-modernas que citam  e reelaboram sob um novo olhar, clássicos da história da arte.  Do ´Nascimento de Vênus´,  de Botticelli, à ´Dança´ de Matisse, passando por diversos outros autores da preferência do artista, deparamos com inusitadas vistas aéreas, que imprimem  toda uma nova atmosfera aos temas tratados pelos grandes mestres em suas obras originais.
O tratamento dos elementos  compositivos, os detalhes, os recortes e os próprios ângulos  de onde as cenas são captadas, remetem aos enquadramentos e efeitos gráficos das histórias em quadrinho mais sofisticadas,  ou aos desenhos de animação. Essa tomada de cena observada do alto, plano que os cineastas denominam  de “plano de Deus”, constitui-se num dos maiores  ´achados´ de Ricardo, e já se tornou sua marca registrada.
    Na fotografia, o artista paulista Cássio Vasconcellos já vem explorando as possibilidades expressivas das  tomadas aéreas de praias com banhistas, como faz Ricardo Ramos através da pintura.
     A originalidade nunca foi uma preocupação da pós-modernidade, ciente de que tudo já foi feito, e que inventar algo totalmente novo é praticamente impossível. Mas sempre é possível abordar o que já foi feito sob um novo olhar, perspectiva, ou ângulo, que acrescente ao tema um novo sentido, ou lhe atribua um novo significado.
É  exatamente esse o processo que Ricardo Ramos utiliza na elaboração de  sua linguagem segura, coerente  e precisa, que pela qualidade e força, conquistou a aprovação da crítica e do público. 
  Além das cenas praieiras, que lembram as fotos de Cássio, o grande ´achado´ de Ricardo foi submeter a esse mesmo plano de observação cenas provenientes dos temas tratados pelos grandes mestres da pintura. Nesse caso, a originalidade é indiscutível e o efeito surpreendente e fascinante, captando imediatamente a atenção do observador.
Na Galeria da Casa Açoriana, um dos locais onde  o artista expõe suas obras, é frequente  constatar o encantamento e a surpresa do público  com seus trabalhos.






Tratando-se de arte contemporânea,  sabemos o quanto é difícil a comunicação. Não é o caso das pinturas de Ricardo: com recursos técnicos muito bem utilizados, senso de humor contagiante  e uma sempre presente alegria de viver, suas obras são daquelas que não deixam ninguém indiferente. Ao  contrário, são um convite perene a celebração do que a vida tem de melhor. Não por menos, a ‘Dança’, de Matisse,  pontifica na exposição  em lugar de destaque,  deixando claras  as intenções expressivas desse artista tão singular.

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