quinta-feira, 21 de junho de 2018

DESTERRO DESATERRO - ESTADO DE INVENÇÃO INVADE O MASC



   Intervenção de Fê Luz                                                                                                      Foto: Rodrigo Sambaqui

O público jovem que lotou as dependências do museu na abertura da mostra DESTERRO DESATERRO como há anos não se via, mostrou o acerto do direcionamento que o MASC   assumiu. Centenas de jovens das mais diversas áreas, como das artes visuais, da música, da dança, do teatro, da performance, da literatura, prestigiaram com sua presença esse importante ato cultural. Pensante, reflexivo, interessado, capaz de decodificar o significado das obras e interagir com as mesmas, esse tipo de público voltou a frequentar o MASC, pois percebeu que a partir do novo direcionamento dado, o museu reencontrou seu caminho passando a liderar o setor das artes visuais do Estado com uma programação coerente e qualificada.
DESATERRO começa no próprio saguão do CIC com uma instalação de Raquel Stolf, apropriando-se de uma cabine audiométrica utilizada para testes de audição, a artista induz o espectador a entrar e ouvir através de um fone de ouvido o som do seu batimento cardíaco. A vivência propiciada por esse momento de recolhimento num local isolado dos sons externos, com a atenção voltada unicamente para o próprio pulsar da vida em nosso corpo, é muito densa e reveladora. Trabalhando sempre com extrema sensibilidade e sutileza, Raquel pela densidade poética de suas intervenções é um dos nomes de maior destaque na cena contemporânea catarinense. Não poderia ser melhor a escolha de sua proposta para iniciar a mostra DESATERRO.

   Instalação Raquel Stolf                                                                                  Foto: Rodrigo Sambaqui

Para a arte de hoje interessa sobretudo o sentido, o conceito ou ideia de que a obra é portadora. Quanto mais vigorosos e autênticos esses conteúdos vivenciais, mais entusiasmo são capazes de suscitar.
É isso que explica o grande fluxo de público não só na abertura como também o que vem ocorrendo no decorrer da exposição.
Ao aproximarmo-nos da porta de entrada do museu outra surpresa: o Grupo Tropicalista formado pelos dois arquitetos e designers Marcelo e Jean transformou o anódino hall de entrada do MASC numa criativa e ecológica instalação que funciona como um espaço vivencial.

  Instalação Grupo Tropicalistas - detalhe                                                                           Foto: Rodrigo Sambaqui

Logo na entrada das salas de exposição, num texto de parede que apresenta a mostra, Josué Matos assina um contundente manifesto posicionando-se corajosamente sobre a atual situação do museu, apontando para o que pode e deve ser feito para que o MASC tenha reconhecida sua importância e possa cumprir plenamente o papel que lhe cabe na sociedade catarinense.

    Instalação Grupo Tropicalistas - detalhe                                                                         Foto: Rodrigo Sambaqui

Um vídeo de Tirotti apresentando imagens de um peixe nadando de um lado para o outro dá inicio a sequência das obras expostas, que passeiam pelos mais diversos caminhos disponíveis aos artistas de nossos dias, propondo sempre a busca reflexiva através da imagem plástica. Uma surpresa é a presença significativa de obras ainda possuidoras de materialidade, como é o caso dos diversos artistas que recorreram ao desenho, a pintura, a assemblages, a escultura ou até mesmo a cerâmica e a porcelana.
Imprimindo uma nova dinâmica ao espaço expositivo, tornando-o um local não somente para contemplação e fruição estética, mas, sobretudo para reflexão questionamento e conscientização, a visão curatorial da mostra DESTERRO DESATERRO, na fluidez de sua montagem, permite que o público circule livremente por entre o número considerável de obras expostas criando seus próprios roteiros, estabelecendo suas próprias conclusões a respeito das consonâncias ou confrontos entre uma proposta e outra. DESATERRO propõe o exercício experimental da liberdade, estratégia adotada pelos artistas como forma de não se deixarem manipular nem se atrelarem aos valores do sistema.

   Intervenção - Fê Luz - detalhe                                                                                    Foto: Rodrigo Sambaqui

Espalhadas por todo o espaço do museu pequenas plaquetas de madeira com indicações e textos tipo “SEU SISTEMA ESTA EM RISCO” constituem a proposta de Fe Luz, uma artista que vem se notabilizando pela inserção destes dizeres no espaço urbano provocando o olhar a reflexão e a atenção do passante.

   Watcher - Diego de los Campos                                                                                      Foto: Rodrigo Sambaqui

Diego de los Campos montou “WATCHER“, uma estrutura com sensores, que quando alguém se aproxima movimenta os olhos e as três cabeças construídas com papel kraft colocadas em forma de tridente uma ao lado da outra. O olhar perdido destes personagens nos observa com a mesma melancolia do peixe que no aquário de Tirotti nada de um lado para o outro sem conseguir sair do lugar onde se encontra aprisionado.

    Pintura - Diego de los Campos                                                                                    Foto: Rodrigo Sambaqui

Diego além dessa montagem participa com uma inquietante pintura de uma vaca composta por duas metades do corpo acopladas sem as cabeças compondo um enigma surreal.

   Instalação - Juliano Jahn. Ao fundo 'Imperatriz Antropófaga - Lindote                            Foto: Rodrigo Sambaqui

A esquerda de quem entra no MASC, na parede de fundo vê-se a imponente “IMPERATRIZ ANTROPÓFAGA” de Lindote, representando através da figura mítica da escrava Anastácia, o sofrimento e o genocídio a que foram (e continuam sendo) submetidos, os povos que construíram esse país escravocrata durante  os séculos da sua formação.
Coroada simbolicamente com um exuberante buque de orquídeas tropicais “IMPERATRIZ ANTROPÓFAGA” pontifica dentre os DESATERRADOS com sua convincente riqueza técnica e conceitual.

      'Imperatriz Antropófaga' - Lindote                                                          Foto: Rodrigo Sambaqui

Na parede ao lado  situa-se o “Vale das estranhezas” de Cyntia  Werner, obra que consta de uma série de desenhos realistas representando os corpos nus de mulheres  e homens de diferentes idades e raças  marginalizados pelo sistema.

   'Vale das estranhezas' - desenh - Cyntia Werner                                                             Foto: Rodrigo Sambaqui

Defronte a pintura de Lindote instalou-se a proposta de Juliano Jahn que consta de um conjunto de bússolas colocadas sobre cubos negros. Movimentando-se sem parar e apontando para diferentes pontos, confundem nossa percepção espaço temporal subtraindo por instantes nosso NORTE. Juliano  encontrou uma maneira bem singular de colocar seus questionamentos. Focando já há algum tempo as forças magnéticas como mote de seu trabalho, parece-nos que a Land Art seria um campo onde ele poderia ampliar e expandir  suas possibilidades.

   Foto sobre metalatex - Karina Zen                                                                                   Foto: Rodrigo Sambaqui

Numa outra parede “Unidade composta” de Karina Zen  propõe a poesia visual de um painel formatado pela justaposição de detalhes de fotos de nuvens, mar e ilha sobre superfície de metalatex.

   Técnica mista - Juliana Hoffmann                                                                                    Foto: Rodrigo Sambaqui

Juliana Hoffmann tendo como suporte placas de vidro marteladas superpõe imagens da natureza sobre superfícies fragmentadas transparentes, criando efeitos visuais bastante interessantes. A partir da quebra acidental de um vidro, Juliana soube aproveitar o acaso e partiu ela mesma para martelar o suporte, até conseguir a trama de ranhuras que dão um novo aporte às imagens que a artista sobrepõe ao vidro. Esse dialogo com o material, essa percepção de novas possibilidades expressivas que se abrem a cada passo, são fundamentais para o artista ir desbravando cada vez mais caminhos desconhecidos, ampliando seu repertório e não limitando-se a ficar simplesmente repetindo para sempre fórmulas que deram certo.

                   Técnica mista - Paulo Gaiad                                        Foto: Rodrigo Sambaqui

Paulo Gaiad reúniu diversos materiais criando uma obra intitulada “SARA-INTOLERANCIA”, que aponta para a questão do ser fragilizado exposto a exclusão, preconceito e injustiça social.

   Objeto - Walmor Correa                                                                                 Foto: Rodrigo Sambaqui

Walmor Correa mostra um relógio cuco onde o pássaro que assinala as horas é um esqueleto que assombra com sua presença a passagem do tempo.
Diego Rayck mais conhecido por suas interferências gráficas na própria arquitetura, optou por homenagear os setenta anos do MASC fazendo uma releitura de duas obras do acervo, sendo uma de autoria de Iberê Camargo. Trata-se de um trabalho de proporções diminutas, mas que chama a atenção pela sensibilidade e precisão do traço.
Organizando suas poéticas através da busca do desconhecido, a maioria dos participantes dessa mostra elaborou propostas diversificadas, criativas, as vezes recorrendo ao humor, outras a vertentes poéticas, como é o caso da proposta “Arcano Dez” de Luciana Knabe ou de “Linha branca sobre simulação de mar” de Ian Campigoto e “Marcar o dia com pedra branca e preta” de Claudia Zimer. Sempre instigantes e desalienadoras, as obras que compõe DESATERRO vão sucedendo-se nos espaços do MASC levando o espectador de uma surpresa a outra.

   Técnica mista - Ian Campigoto                                                                                         Foto: Rodrigo Sambaqui

Há uma preocupação ecológica evidente em muitos trabalhos, noutros um viés político ou um explícito teor ideológico pretende através da arte mobilizar o espectador para uma ação política mais atuante e crítica perante o que está por ai.

                   Instalação - Daniele Zacarão                                                                      foto: Janga

“Escute o rio Criciúma” de Daniele Zacarão, inspirada talvez no ‘Escute o Rio” de Cildo Meireles, é um trabalho singelo que consiste numa placa amarela colocada no chão fazendo com que o espectador tenha que se agachar para ouvir o som do rio emitido por um gravador. Seu significado  é bem pertinente: é necessário parar de destruir o meio ambiente, é necessário parar para ouvir, observar, perceber o que esta acontecendo, abandonar o comodismo e despertar para a realidade que nos cerca. Os rios estão morrendo e não fazemos nada, permanecemos passivamente de braços cruzados. Uma ironia: o rio Criciúma praticamente nem mais existe, seu leito foi totalmente canalizado e corre invisível por dutos subterrâneos no espaço urbano, como acontece com tantos outros rios destruídos por uma urbanização burra e predatória que não leva em conta nem mesmo a escassez planetária da água sem a qual a vida não é possível no planeta.

   Iftah Pelled                                                                                              Foto: Rodrigo Sambaqui

IFTAH PELLED em seu trabalho reuniu diversos cubos transparentes com a lama que destruiu a natureza na região de Mariana MG, num dos maiores desastres ecológicos jamais vistos.

   Foto e instalação - Janor Vasconcelos                                                                             Foto: Rodrigo Sambaqui

Janor Vasconcelos ao lado de suas expressionistas cabeças de cerâmica expõe duas fotos onde aparece a água dos rios de Siderópolis, região mineira de Santa Catarina, totalmente poluída pela indústria de extração do carvão, que aos poucos vai dando um aspecto apocalíptico a paisagem catarinense dos sul.

   Instalação 'Ouvir nas conchas o ruído do mar' Juliana Crispe                                         Foto: Rodrigo Sambaqui

Em meio a tanta tragédia ecológica Juliana Crispe nos faz um convite poético para ”Ouvir nas conchas o ruído do mar”, bela proposta que posiciona ao lado de um espelho oval com uma figura desfocada no centro, dois caramujos situados um a cada lado do espelho. A artista nos propõe uma vivencia sensorial singela, mas plena de significados, que de certa forma homenageia as experimentações sensoriais de Lygia Clark. Juliana vem se destacando não só como artista, mas como curadora e animadora cultural, foi ela a principal responsável pela excelente coletiva do ARMAZEM 16 montada recentemente no CIC, mostra que impressionou pela qualidade e consistência.

   Video-Instalação - Yara Guasque                                                                                     Foto: Rodrigo Sambaqui

Outra proposta interessante, com múltiplos significados, é o trabalho de Yara Guasque resultante de sua pesquisa sobre a obra de Fritz Müller. A partir desse tema Yara montou uma individual no ano passado no museu Victor Meirelles, sem dúvida uma das mostras mais marcantes apresentadas no período. Intercalando recursos da vídeo arte a plantas e objetos, posicionou um monitor com imagens de plantas coletadas por Fritz Müller montadas sobre cartão pertencentes ao acervo do Royal College, na frente da tela Yara colocou ramos de macela e outras plantas secas da flora catarinense. Para quem não sabe, Fritz Müller foi um importante pesquisador da nossa flora, tendo inclusive colaborado com DARWIN de quem era amigo e com o qual manteve farta correspondência.
Pela dimensão da mostra seria fastidioso comentar o trabalho de cada participante assim optamos apenas por destacar algumas obras que nos chamaram mais a atenção numa primeira vista.


                   Video-instalação - Evandro Machado                     Foto: Rodrigo Sambaqui
                                                                                        Video: Luiza Lorenz

Muito bem realizada a instalação de parede “Continente Antropométrico” de Evandro Machado que une num mesmo painel desenho e vídeo arte numa perfeita interação entre um meio e outro. Vale a pena conferir as linhas do desenho a nanquim dialogando com as requintadas formas gráficas que se entrelaçam se contraem e se expandem no monitor que ocupa o ponto central da montagem.



   Instalação - Sergio Adriano                                   Foto da instalação: Rodrigo Sambaqui. Detalhe: Luiza Lorenz

Chamam a atenção também os objetos infláveis de Sergio Adriano com as palavras TU MATA EU, balões dourados recortam-se sobre a parede sobre a qual em formato de molduras foram carimbadas palavras como: preta, puta, viado, etc.
Há de tudo no DESATERRO, propostas de diversos teores e com diferentes propósitos se sucedem no espaço expositivo do MASC poucas vezes tão diversificado.

    Roberta Tassinari                                                                                                            Foto: Rodrigo Sambaqui

Não passam despercebidas, mesmo em meio a tal profusão  de obras dos mais diversos formatos, as discretas placas cimenticias de Roberta Tassinari, que propondo sempre um exercício de sensibilidade, expande nossa percepção sobre a natureza e possibilidades poético expressivas de materiais aparentemente inertes e sem vida.

   Instalação 'Nossa Senhora dos Homens' - Mauricio Magagni                                         Foto: Rodrigo Sambaqui

Um espaço de sacralidade foi construído por Mauricio Magagni com sua instalação ”Nossa Senhora dos Homens“, que consiste num tipo de tenda de tecido branco penetrável, onde o espectador pode entrar e sentir-se protegido pelo grande manto que se abre e acolhe.

   Instalação - Mauricio Magagni - detalhe                                                            Foto: Rodrigo Sambaqui

Flávia Duzzo utilizando bastão grafite sobre papel justapôs traços criando tensas superfícies gráficas de grande força.  

   Fotografia - Giba Duarte                                                                               Foto: Rodrigo Sambaqui   
Giba Duarte marca presença na coletiva com uma grande foto em que destaca a forma de um cavalo em primeiro plano com sua cor neutra recortando-se contra planos de cor de intensos amarelos e verdes de uma capela  de madeira do interior, há algo de metafísico nessa atmosfera, sem dúvida um belo e impactante trabalho.

    'Dois Corpos' - pintura - Roberto Freitas                                                           Foto: Rodrigo Sambaqui

Já o conjunto de pequenas pinturas e um objeto apresentado por Roberto Freitas, pela maneira como conseguiu focar a fragilidade da condição humana, constitue-se na participação mais pungente do DESATERRO. Sua proposta intitulada ”DOIS CORPOS“, expressa seu impasse perante a morte e a perda do ser amado. Com sutileza incrível Roberto fala da separação dos corpos, da dor, da complementação entre os espíritos, da flutuação e da levitação do SER. Em seu objeto escultórico utiliza dois pequenos cubos de madeira posicionados um ao lado do outro, sendo que um deles flutua suspenso por um imã ao mesmo tempo em que desenvolve um movimento de rotação sobre si mesmo. Tratando com uma sensibilidade inigualável a questão vida-morte, espirito-matéria, permanência-transcendência, aborda uma das questões existenciais mais angustiantes que o ser humano enfrenta. Roberto atravessou sua própria dor criando uma pequena obra antológica com o seu inefável “DOIS CORPOS”.

                     'Dois Corpos' - objeto - Roberto Freitas                    video: Luiza Lorenz

Fernando Weber com seus registros diários onde une fotos e textos, assinala num deles: ”As ruinas são caveiras dispersas pela cidade”.
Vários outros artistas poderiam ser mencionados, Julia Amaral com sua série  meninas-elefante  que consiste em alguns desenhos e um grande elefante  inflável. Fabiana Weilewicki com seu vídeo instigante, Aline Dias com sua coluna de pastas de arquivo e suas fileiras de traças coladas nas paredes, Lela Martorano com suas imagens provenientes de fotos de álbuns de família impressas sobre papel de out-door, Bianca Tomazelli e sua interferência quase imperceptível a um olhar mais apressado, Gabriela Machado com suas pinturas seu desenho e sua surpreendente peça de porcelana cromada, enfim tantos nomes mais com propostas igualmente interessantes poderiam ser mencionados, porém esse artigo ficaria excessivamente longo.

   Objeto em porcelana policromada - Gabriela Machado                                                   Foto: Rodrigo Sambaqui

O que fica bem claro para quem visita a mostra com atenção é que assim é o artista de hoje: trabalha com e sobre o observador, estimulando sua consciência, sua percepção sensorial, provocando um despertar ou elevação do seu nível de apreciação do fato plástico e da realidade total, cumprindo assim um dos objetivos mais nobres e vitais da arte. É isso que os artistas que participam do DESATERRO propõem, utilizando-se dos meios tecnológicos e dos recursos de sua época. Esse é um dos fatores que torna essa mostra tão interessante, fazendo com que desperte tanto interesse e seja tão visitada.
As pessoas saem dali mais ricas, mais sensíveis, mais despertas, não é só portanto uma questão de achar feio ou bonito, gostar ou não gostar.
Conceito, sentido e ideia são os pressupostos básicos sobre os quais trabalha o artista lucido de hoje e é isso que está posto, não se trata de uma mostra definitiva em termos históricos sobre o percurso percorrido pela arte contemporânea em Santa Catarina pois muitos nomes fundamentais e incontornáveis ficaram de fora, Mas não se trata disso, algo assim exigiria muito mais tempo e uma pesquisa mais profunda para chegar a um levantamento completo.
DESATERRO mostra como a arte contemporânea catarinense evoluiu. Há trinta anos atrás com muito custo chegava-se a utilizar todos os dedos das duas mãos para contar quem poderia participar com merecimento de uma mostra contemporânea, hoje felizmente a situação finalmente mudou. Mesmo com um número relativamente grande de participantes, DESATERRO deixou muita proposta boa de fora, na verdade se quiséssemos fazer uma revisão completa de quem é quem na arte contemporânea catarinense, o MASC seria pequeno para expor todos.
DESTERRO DESATERRO funciona como um panorama da produção atual com algumas referências históricas. Cumpriu bem seu papel de mostrar o patamar de excelência alcançado pela arte catarinense nestas últimas décadas. Atualizada, alinhada com o que vem se fazendo de melhor na produção nacional contemporânea, a arte catarinense da atualidade conta hoje com vários nomes de projeção nacional, está inserida pela primeira vez na história no circuito nacional das artes visuais. Muito mais pode ser feito, mas ai já é outro assunto, por ora cumprimentos a todos que participaram e aos seus idealizadores.

   Instação - Aline Dias                                                                                                         Foto: Rodrigo Sambaqui

De maneira geral Desaterro retirou a obra do seu pedestal colocando-a no contexto cotidiano sem mistificações nem tapetes vermelhos. Essa proposta de socializar a arte e entrega-la ao poder efetivo do público converte a obra em proposta onde o processo conta mais que o resultado final, o caráter processual de boa parte das obras selecionadas deixa claro outra atitude, outra postura outro aporte. A dimensão simbólica inovadora das obras selecionadas estabelece um dialogo franco com o público, um dialogo interativo onde o outro tem sua identidade respeitada atuando, influindo e encerrando o circuito criativo.
Negando-se a ser o criador de bibelôs de luxo, decorador de palácios ou mansões suntuosas, bobo da corte e beija-mão dos poderosos, os artistas contemporâneos assumem as contradições do seu tempo tornando-se protagonistas de um processo que permite vislumbrar um mundo menos vertical, menos injusto e desigual, mais humano mais horizontal e compartilhado.
Se conseguirão ou não contribuir para as coisas mudarem, a história dirá, por ora já é gratificante perceber que, ao menos para as novas gerações, o interesse pelo social parece ter suplantado interesses mercantilistas e individualista típicos dos narcisos endeusados pelo sistema ao qual prestam vassalagem.
Esses artistas contemporâneos comprometidos com os desafios de sua época antecipam o surgimento de uma sociedade sem mais diferenças entre um e outro, onde o trabalho não seja mais uma atividade escravocrata e alienante, uma sociedade que encare o lazer não como uma ausência ociosa do trabalho, mas sim como o exercício pleno da criatividade e da liberdade.
A Arte Contemporânea lida com o que se passa no presente de forma como não o faz qualquer outro meio de arte, é ela também o único campo que coloca como matéria-prima o diálogo com outras linguagens como literatura, dança, áudio–visual, musica e outras formas de conhecimento, o artista de nossos dias mais que preocupar-se com o resultado final do bem feito, do bem acabado, propõe gestos, ações coletivas, movimentos no plano da atividade criadora.
Como da para perceber nas obras dos diversos artistas que compõem DESATERRO, a resposta ao que nos preocupa, cerca, aflige, é imediata e recorre aos mais diversificados e inusitados suportes. Para comunicarem–se utilizam os meios mais diversos tais como pintura, fotografia, escultura, vídeo, desenho, arte têxtil, objeto, instalação, cerâmica, colagens, assemblages, apropriações, etc. Inter-relacionando estes materiais com a mais absoluta liberdade.

   Traplev                                                                                                                              Foto: Rodrigo Sambaqui

TRAPLEV por exemplo colocou em pontos estratégicos do espaço da mostra faixas de pano com textos que questionam o sistema.
Não se trata de militância política simplesmente, mas sim de um posicionamento ideológico expresso de forma visualmente impactante que entre outras coisas desafia a sacralidade conferida aos espaços museológicos. Funciona como uma provocação, um impulso para despertar, sair do sono, acordar para a existência, perceber o que está acontecendo no mundo ao nosso lado e conosco mesmo.

   Traplev                                                                                                                                        foto: Luiza Lorenz

A sociedade de consumo se impôs de maneira tal pela comunicação de massa que deu a imagem uma força atributiva maior que a palavra, fornecendo ao poder da publicidade suas invencíveis e letais armas ofensivas.

   Proposta - 'the imbecil'                                                                                                     Foto: Rodrigo Sambaqui

A arte contemporânea é um dos únicos lugares onde pode ser confrontada essa verdadeira lavagem cerebral que os meios de comunicação vomitam o tempo todo. Mais que nunca a arte permanece como reduto inexpugnável, onde o exercício da reflexão, do questionamento, da criatividade e da liberdade pode ser exercitado.  
A trava conservadora das nossas arcaicas instituições políticas não tem a menor possibilidade de entender o que está acontecendo no seio da sociedade ou na periferia das grandes metrópoles. As contradições se exacerbam, a revolta espraia-se por todos os lados sem que nada possa ser feito, pois nem sequer se sabe em nome de que ética, de que princípios, de que moral esses protestos existem e acontecem. Vivemos numa sociedade sitiada por suas próprias contradições e impasses, urge pensar e repensar tudo, propor ações novas, novas maneiras de atuar na sociedade, de conviver, de exercer a cidadania, de participar da transformação inadiável. Mais que simples opção ético-estética é uma questão de sobrevivência da própria espécie humana e das demais espécies ainda vivas, da sobrevivência do próprio planeta. Evidentemente que é incomodo abordar esses assuntos, toma-los como motivações da própria obra, isso incomoda, causa desconforto, provoca movimentos em direção a mudanças, e isso é tudo que o sistema não quer. O artista genuíno é aquele que aceita e encara os desafios do seu tempo custe o que custar. E a arte contemporânea é o único espaço que permite isso com seu exercício experimental da liberdade.

ARTE É TRANSFORMAÇÃO!


 

    Instalação - Claudia Zimer                                                                                                         Foto: Rodrigo Sambaqui

                     Juliana Crispe                                                                                  Foto:Janga
    Instalação - Doraci Girrulat                                                                                                            Foto: Rodrigo Sambaqui
                     Objeto textil - Berenice Gorini                                                                                  Foto: Rodrigo Sambaqui

    Pintura - Rodrigo Cunha                                                                                                             Foto: Rodrigo Sambaqui

                     Detalhe de instalção fotografica                                                                 Foto: Luiza Lorenz

                      Objeto - Clara Fernandes                                                                 Foto: Rodrigo Sambaqui

                                 "Arcano Dez" - Luciana Knabe                                video: Luiza Lorenz

segunda-feira, 28 de maio de 2018

"Um pouco de historia: OS PRECURSORES DA CONTEMPORANEIDADE EM SC"

A comemoração dos setenta anos do MASC traz ao público um diversificado recorte da produção local contemporânea, numa próxima oportunidade comentaremos detalhes da mostra intitulada Desterro Desaterro, por ora vamos desaterrar algumas memórias do movimento ocorrido a partir dos anos setenta, movimentos que precederam o momento atual e que construíram as bases sobre as quais se assenta a produção atual da arte praticada em Santa Catarina.
As mudanças de paradigmas em qualquer setor não acontecem por acaso de uma hora para outra. No campo da arte não poderia ser diferente, assim o que podemos apreciar hoje é fruto do esforço de varias gerações, que a partir dos anos setenta foram criando pouco a pouco as bases que serviram de alicerce para os novos tempos que se anunciavam, de forma tímida na obra de alguns, de forma virulenta e impactante na de outros. 



“Parque de diversões” – Obra de Janga, que fazia parte, juntamente com o ‘Oratorio’ de Max Moura, da individual apresentada no hall do TAC em 1969. Essa obra, felizmente não destruída, faz parte atualmente do acervo do MASC


A luta não foi fácil muita coisa perdeu-se no esquecimento, mas o importante é que ficou decididamente para traz o anacronismo provinciano, que por muito tempo asfixiava qualquer tentativa de romper a inércia e o comodismo. A coisa estava num ponto que o próprio Harry Laus irritado com o que predominava na pintura local sugeriu num de seus textos que os artistas catarinenses deveriam se unir e abrir de uma vez uma quitanda, tal a profusão de naturezas mortas, vasos de flores, peixes, aves e coisas tais que predominavam. Quando não era isso o que se via nas telas eram casarios coloniais, retratos ou narrativas predominantemente anedóticas. Quem ousasse sair fora dos padrões era hostilizado ou simplesmente ignorado. Mesmo nos setores mais esclarecidos havia uma resistência muito grande em relação a obra aberta.



Capa do catalogo da exposição que foi censurada na galeria da então Radio diário da manhã e apresentada no hall TAC.


Gravura em metal de Max Moura, com mesmo tema – Varal – que inspirou sua intalação na mostra do teatro Carlos Gomes, em 1969


Lembro bem quando por ocasião de uma mostra nacional de escultura realizada por Lindolf Bell no Teatro Carlos Gomes de Blumenau, o escândalo que a obra exposta por Max Moura criou. Fomos a Blumenau eu Max e Romulo Azevedo para montar a instalação do Max que consistia num varal com camisetas do Flamengo, o detalhe é que a proposta de Max exigia que as camisetas estivessem molhadas. Assim logo que chegamos encharcamos as peças e montamos o varal, de repente surge furioso o curador da mostra exigindo que o Max desmontasse a obra, pois estava pingando nas esculturas de Vasco Prado.  A instalação só permaneceu graças a intervenção de Elke Hering que sugeriu que Max afastasse um pouco o varal para não interferir nas esculturas. Decidimos não ficar para a abertura pois não tinha clima, quando já  estávamos entrando no carro, o Bel veio correndo atrás dizendo que o Valmir Ayala, então crítico do Jornal do Brasil, queria falar com Max pois considerou seu trabalho a melhor peça exposta.
A coluna de Ayala no JB dedicou meia página ao trabalho do Max. Por essa época eu o Jayro Schmidt e o Max Moura criamos o Grupo Nossarte que incluiu também outro nomes, este foi o primeiro grupo pós moderno de SC ,como era um grupo com ideias próprias foi inevitável um certo choque com o que havia por aqui.


“Oratório” – Provavelmente o primeiro objeto da Arte Catarinense. Essa obra, doada ao MASC foi posteriormente queimada sobre a alegação de estar “infestada por cupins”.


Na sequencia fomos morar em São Paulo eu e o Max, o Jayro ficou por aqui ‘segurando a onda’ sozinho. Max antes de mudar-se doou ao MASC uma obra sua tridimensional que foi um dos primeiros objetos, senão o primeiro da arte catarinense. Alguns anos depois soubemos que o mesmo foi queimado, pois segundo o diretor do museu da época Aldo Nunes a peça estava com cupim. Provavelmente nem fotografaram a obra antes de destruí-la, e pelo que sei nem avisaram o autor que iriam queima-la. A obra consistia num grande oratório de madeira com fundo de espelho tendo em primeiro plano um manequim e uma rosa de plástico. Até hoje não entendi como deu cupim num objeto de plástico.

Esses episódios resgatados do tempo dão uma leve ideia do conservadorismo reinante, que não só  hostilizava claramente qualquer  tentativa de renovação que batesse de frente com  o que os mandarins locais preceituavam como arte, como fazia o possível e o impossível para impedir que novas propostas se afirmassem. Alguns poucos entendiam e apoiavam o que estávamos tentando fazer, como era o caso de Carlos Humberto Correia, Pericles Prade, Vecchieti e Pléticos, mas de maneira geral o que havia por aqui era uma sociedade totalmente refratária ao novo. O jeito era ir embora em busca de lugares mais oxigenados, praticamente todos o fizeram, alguns retornaram anos depois outros não, como foi o caso de Ivens Machado que só voltava para visitar seus familiares e até hoje, mesmo tendo sido um dos artistas nacionais de maior relevância,  jamais foi reconhecido em sua cidade natal.
Na década de oitenta, com o retorno para Santa Catarina de diversos artistas que tinham migrado para centros maiores do pais ou do exterior,  a classe artística organizou-se através das entidades recém criadas e foi feito todo um trabalho estratégico visando atualização da arte catarinense. Aconteceram a partir dai as primeiras mostras contemporâneas como as de arte postal, importante movimento da época, as primeiras instalações, mostras de arte na rua, vídeo-arte, out-doors, cursos de arte contemporânea as primeiras performances etc.


“ITACOATIARA” – Obra de Janga que fez parte da mostra INSTALARTE, a primeira mostra de instalações em Santa Catarina, apresentada na ACAP, no prédio da alfandega, no ano de 1985.


Começaram a surgir nomes que viriam a se firmar nacionalmente nos anos subsequentes. Por essa época existiam os salões e nossos artistas contemporâneos começaram a despertar a atenção da crítica nacional, ocorreram as primeiras premiações neste circuito. Essa verdadeira epopeia que merece um dia ser relatada em detalhes, culminou no inicio dos anos noventa com o Panorama do Volume mostra organizada pelo MASC dirigido então por Harry Laus. Laus tinha sido colocado a frente do MASC por reinvindicação dos artistas e não decepcionou, de formação basicamente modernista, teve de início uma certa dificuldade de entender o que estava sendo proposto. Num jornal ACAP intitulado “Retoque” declarou:
”No MASC tento fazer o possível para acompanhar o que Janga faz na ACAP”.


“ORUN” – Instalação de Janga premiada no 40º salão paranaense em 1983.


Inteligente, polemico, criativo, competente e sem medo de expressar sua opinião, logo passou a fazer parte do movimento de renovação que acontecia de forma irreversível tendo sido um dos seus principais incentivadores. O “PANORAMA DO VOLUME” que o MASC apresentou ao público em 1990 nasceu de conversas entre eu ele e Doraci Girrulat onde colocávamos sempre a necessidade de propor novos desafios aos nossos artistas. Não queríamos que a exposição programada fosse apenas mais uma mostra de escultura como estava planejado, queríamos tratar a questão da obra com limites borrados, nem escultura nem pintura: objeto. Harry argumentava que para ele tudo era objeto, depois de muita conversa chegou-se a um consenso e o nome Panorama do Volume foi proposto e aceito.


“Sagração da Primavera” – detalhe da instalação de Doraci Girulat, apresentada no MASC nos anos 90 e recentemente incluída na mostra de arte contemporânea catarinense no mesmo Museu.


A mostra foi um divisor de aguas e consolidou todo o esforço que vinha sendo desenvolvido no sentido de buscar uma linguagem menos defasada em relação ao que vinha se fazendo no resto do país.
Segundo a critica paranaense Adalice Araujo que veio visitar a exposição do MASC, a arte catarinense tinha atingido um nível que a colocava em pé de igualdade com o que de melhor estava sendo apresentado nas grandes mostras internacionais. Transcrevemos a seguir trechos do texto publicado na Gazeta do Povo de Curitiba na coluna de Artes Visuais de Adalice do dia 6 de janeiro de 1991.


No Museu de Arte de Santa Catarina o “Panorama Catarinense do Volume 90”
O critico de arte Harry Laus, diretor do museu de arte de Santa Catarina é o idealizador e curador do “Panorama Catarinense do Volume 90”. O projeto, dos mais arrojados, reúne 37 entre os mais representativos artistas da arte catarinense contemporânea.
A busca da contemporaneidade, a defesa da ecologia, o grande predomínio das instalações, constituem as principais características do panorama 90.
Graças a habilidade de uma eficiente curadoria, excelentes propostas como a de Janga, Jaime Reis, Adalto Althoff, Schwanke e Marcos Rück mantem a qualidade da mostra, esses artistas, propondo novos rituais não esquecem a lição de Kaprow “A linha de demarcação entre a arte e a vida deve ser conservada tão fluida quanto possível.” Suas obras são dignas de serem apresentadas tanto em grandes mostras nacionais quanto internacionais.
As várias propostas
FERNANDO LINDOTE – Logo no saguão interno do CIC uma instalação de Lindote adverte o espectador que aquela não é uma exposição comum: muito pelo contrario, a tentativa de renovação e muito enigma  estão no ar.
DORACI GIRRULAT – Ao se entrar na sala de exposições do MASC, a primeira proposta com que o expectador se depara é com “Penélope Noturna” de Doraci Girrulat. Servindo-se de uma tela metálica que – aludindo a rolos de urdidura – se enrola nos dois extremos de um suporte que funciona como mesa de tear e, embora esticada sobre a mesma, desfia-se na extensão entre essa e o chão; a autora revive a mitologia grega mesmo em plena era pós-industrial. Mesmo lançando mão de materiais gerados pela indústria é possível identificar na imagem por ela criada a foto de uma cesta sendo tranada com talas de arumã por uma índia Tukuna (AM), que Rita Caurio publicou em “Arte têxtil no Brasil”. Simplicidade e surpresa são o tônico de “Penélope noturna”, rica em simbologia.
ISABELA SIELSKI – Também intrigantes são os grandes e enigmáticos volumes cerâmicos de Isabela Sielski sugerindo o empacotamento de Man Ray ou “Quase corpos”.
JANGA (JOÃO OTAVIO NEVES FILHO) – O ponto alto do “Panorama Catarinense Volume 90” é atingido pela instalação “Shekinah”, seu autor que vem se notabilizando por conseguir traduzir em linguagem contemporânea a tradição ilhoa, aqui consegue não so propor um movimento vivo à ecologia, como transpor o local ao universal. Servindo-se de materiais nativos como folhas, serragem, bambu, papier mache e terra, ele assume a tecnologia cabocla. Penetrando a fundo na simbologia básica do triangulo e do Trimurti indiano Janga revive o ritual, o mito e o espaço. Ele da um raro exemplo de dominar a linguagem da instalação. Sem cair no anedótico e, por outro lado, sem obstruir os canais de comunicação com o espectador, o artista sabe preservar a poética e o necessário enigma.



“SHEKNAH” – Instalação de Janga que participou do panorama volume do MASC em 1990.

ELVO BENITO DAMO – assume o precário, a volta as origens. Em suas icônicas armações de madeira, presentifica totens ancestrais.
RUY CESAR BRAGA – em sua instalação “zona industrial”, o artista consegue unir um clima catastrófico à critica robotização imposta pela sociedade de consumo. Suas esculturas de metal ou bonecos metálicos são materialização de historia em quadrinhos temperada com Science Fiction.
ADALTO ALTHOFF – suas excelentes propostas que lembram os irônicos objetos de Paolo Ridolfi contem uma mitologia pessoal.
JAYME REIS – Sua instalação “Apetrechos Açorianos Deparáveis”, entre as mais interessantes obras desse panorama é digna de figurar ao lado de Janga através de objetos de objetos de madeira e utilizações de signos diversos ele recria com rara dignidade a memoria açoriana. As formas propostas de absoluta contemporaneidade são validas por si, sem necessidades de recorrer a subterfúgios.  
Mereceria um artigo a parte alguns entre os artistas convidados, como Luiz Henrique Schwanke, com original projeto constituído de 25 lâmpadas de mercúrio e espeto de churrasco comprovando a sua capacidade de trabalhar com energia cambiante como a luz, que consegue unir a geometria espacial; Berenice Gorini e seus têxteis, com sua capacidade de se impor por sua sacralidade ritual; Elke Hering, pelo profundo simbolismo que extrai da natureza; Marcos Rücke, sem esquecer as qualidades construtivas, consegue renovar a visão pós-moderna.”


Instalação de schwanke feita com luz, espetos de churrasco e reprodução de Caravaggio.

Sobre esse artigo de Adalice Araújo Harry Laus em sua coluna de artes plásticas do jornal o estado de 16 de janeiro de 1991 comentou:

"Aqui em Santa Catarina cuja arte Adalice conhece a fundo, ficaremos a dever-lhe mais esse brilhante trabalho, a ser acrescentado a importância do livro “Mito e Magia na Arte Catarinense” publicado por nosso governo em 1979."

Para os que estão chegando agora é bom saber que nem um de nós é o ponto zero da história e que as coisas que aí estão são frutos do trabalho de muitos. A renovação das artes visuais que partiu da capital espalhou-se pelas demais regiões do Estado, em Rio do Sul Lygia Neves deu importante contribuição estruturando a associação de artistas recém criada, assim como fez Edson Machado  em Joinvilhe, em Blumenau além da atuação didática da FURB e da Casa da Cultura, Elke Hering  e outros artistas continuaram desenvolvendo seus trabalhos, em Chapecó é criado um curso ligado a universidade regional, na produção artística do oeste  destacaram-se Sandra Abelo, Lenice Weissman,Elisa Iop e Ednei Brizot com um trabalho consistente e atualizado, em Lages Clenio Souza teve sua arte reconhecida nos salões locais, em ITAJAI Age Pinheiro Ane Kronbauer e outros ajudaram com sua atuação a  estruturar a Casa da Cultura e o curso universitário  de artes. Com a criação do Bacharelado de ARTES da UDESC e de outros cursos no Estado, a organização da classe artística nas décadas de  oitenta e noventa, assim como  com o circuito estadual dos salões estaduais que culminou com a criação do Salão Nacional Victor Meirelles, o movimento de renovação consolidou-se, deixando definitivamente trás os que se recusaram a acompanhar o trem da história. Atualmente com criação de diversos micro centro culturais e coletivos que a cada dia vão surgindo, principalmente na capital do Estado, as oficinas laboratórios e espaços expositivos vão mostrando o resultado dessa movimentação, muita coisa está sendo conquistada e o amadurecimento do setor é evidente, necessário porém é que os artistas não cruzem os braços, defendam conquistas já conseguidas e pressionem para que cada vez se ampliem  mais os horizontes e o alcance da arte feita em Santa Catarina. É necessário coragem paixão e persistência pois as forças retrógradas entricheiradas na breguice  no marasmo e na mediocridade, estão sempre de plantão tentando  inutilmente reconquistar o espaço e o berço esplendido onde dormitavam seus sonhos parnasianos.