A série de trabalhos de Janor Vasconcelos, inspirada no cotidiano das minas de carvão do sul do Estado, destaca-se entre a produção visual catarinense, por sua tendência social e pela sua singular expressividade.
Dando visibilidade a estes seres que vivem confinados aos subterrâneos
das minas, de onde extraem a riqueza do solo com suas mãos encarvoadas e grosseiras, o artista, ao mesmo tempo que denuncia as precárias condições de vida em que vivem esses operários, traça uma das mais contundentes
obras gráficas a partir da elaboração formal desse tema.
Seu processo de criação justapõe o desenho de cabeças de mineiros, que
com seus capacetes característicos, repetem –se como módulos num continuo moto - perpétuo.
Na composição, obedece sempre a uma hierarquia das formas, sintetiza os
elementos, deixa de lado o que não interessa, e articula uma trama em formato de grade, formadora de um todo completo em si mesmo, que nos revela a essência e o segredo de sua obra.
Transformadas em signos gráficos, as cabeças de mineiros atingem sua máxima
potência expressiva, na própria articulação do arcabouço estrutural que lhes serve de sustentação.
Essas complexas estruturas, desenhadas de forma quase compulsiva, delineiam
e estabelecem tensões espaciais, cuja fluidez coloca o observador em contato direto com o próprio processo criativo. É um processo, cuja vocação ordenadora, se apodera dos elementos formais contidos no tema básico, e
os estrutura de maneira a desvendar totalmente a essência irredutível da necessidade primordial de expressão.
Repetidos de forma quase compulsiva, a impressionante força desses desenhos,
resulta da própria exteriorização formal da vida, captada em seu ritmo vital onipresente.
Criativo e inquieto, o autor além dos desenhos a nanquim sobre suportes
de papel, que por vezes se estendem por vários metros ocupando toda a extensão da parede, incursiona pela tridimensionalidade através de esculturas cerâmicas, bronze e instalações.
As esculturas em terracota ou em bronze, impõem-se pela dramaticidade
e grande força telúrica .
Partindo sempre do universo que envolve a extração do carvão, Janor
apropia-se de teodolitos, fragmentos de minério ou outros objetos congêneres para delimitar o espaço de suas instalações que utilizam também fotos ampliadas das bocas de minas abandonadas ou não.
Em outras propostas prevalece o caráter processual como é o caso das montagens
sobre a parede das centenas de canetas utilizadas na criação dos desenhos, ou nos fragmentos de pregos de aço atirados sobre os trilhos dos vagões que conduzem o carvão. Após serem amassados pela passagem do trem, esses
pregos são recolhidos e aproveitados como elementos formais definidores da proposta processual, que obedece a mesma vocação ordenadora e lógica formal seriada dos desenhos.
Esse procedimento com os pregos atirados sobre trilhos, remonta à memórias
da infância do artista que costumava brincar com seus colegas ao lado da ferrovia.
Propondo uma reflexão sobre a alienante massificação a que estamos todos
sujeitos, os trabalhos de Janor deixam emergir na sua própria estrutura formal um aspecto lúdico construtivo que aponta para a necessidade de recuperarmos a vitalidade primeira, seguirmos nossos impulsos interiores, e conquistarmos
a plenitude da existência, não obstante as amarras e impedimentos das redes e tramas dos sistema.
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