Sábio e profético, Rodrigo de Haro proclamou, certa vez, que "a arte, o amor e a mística só se realizam plenamente mediante uma entrega total". Figura das mais singulares e emblemáticas da arte, Rodrigo soube realizar esta entrega, transformando sua própria vida numa obra de arte.
No silêncio e recolhimento de seu atelier, situado no alto de uma colina, ao lado de um santuário barroco, com disciplina monacal, dedica-se integralmente a lenta, apaixonada e laboriosa construção de seus manuscritos poéticos e de sua majestosa pintura.
Através das imagens arquetípicas do tarô e do zodíaco, aponta-nos que são essas imagens que nos revelam os mais profundos aspectos da realidade, e as mais secretas modalidades do ser. São essas imagens que podem revelar sua realidade, suas funções cosmológicas, antropológicas e psicológicas, que serviram de inspiração para Rodrigo elaborar essa série de obras, que ao celebrarem o triunfo da imaginação e da poesia, permitem conhecer melhor o homem na sua integridade.
Não existe miséria pior que a falta de imaginação. Um homem sem imaginação é um ser limitado, triste, medíocre e infeliz. A crescente esterilização da imaginação do mundo moderno é um dos piores males de nosso sistema. Um bom antídoto para que esse mal não nos acometa, é refletir sobre as questões que essa mostra de De Haro nos propõe. Ter imaginação é gozar de uma riqueza interna, de um fluxo ininterrupto e espontâneo de imagens, é ver o mundo em toda sua totalidade.
Com seu estilo peculiar, Rodrigo expõe acrílicos sobre tela ou papel que destacam-se pela elegância extraordinária do desenho, contraste das vastas áreas de cores chapadas, e rigorosa bidimensionalidade cromática, obtida através de pinceladas justapostas de cores moduladas. Planas e intensamente coloridas, essas pinturas exploram com sensibilidade impar, o valor plástico fundamental e a expressividade da linha, levando-a a um verdadeiro arrebatamento linear, opulento e requintado.
Rodrigo sempre deu um papel de destaque à linha em seus trabalhos. Nessa série, porém, percebe-se que a mesma vai cedendo espaço à cor, ligando-se mais visceralmente à matéria, acentuando aspectos predominantemente pictóricos.
Uma característica de todo grande artista é a síntese formal que vai ocorrendo gradualmente através de suas diferentes fases. Rodrigo, também poeta, da mesma forma que burilou a palavra em seus textos poéticos, desossou-a e lapidou-a, sintetizou os elementos formais com que constrói suas pinturas. Suas cartas de tarô são exemplares neste sentido. Tudo que não interessa é deixado de lado. Adensando sua linguagem, captou apenas o que é essencial em cada arcano.
Os temas místico-esotéricos, em geral, são uma cilada para artistas menores, que, sem fôlego para adentrá-los com mais profundidade, caem no esteriótipo ou na simples ilustração.
No caso de Rodrigo, o percurso é inverso. Vivenciando profundamente cada símbolo ou imagem que utiliza, atingiu a substância mesma da vida espiritual de onde brotam essas figuras arquetípicas, transformando-as em potentes signos plásticos capazes de nos despertar para a importância primordial deste inestimável tesouro de imagens que trazemos conosco.
Espetacular!!
ResponderExcluirMelhor:Espetaculares - Rodrigo de Haro e Janga!
Concordo plenamente com: "a arte, o amor e a mística só se realizam plenamente mediante uma entrega total".
Também concordo com "vivenciar" ou sentir o que se expressa através da Arte...
Muito bom quando as nossas palavras encontram ressonância em almas sensíveis como a sua. Um abraço
ExcluirBelo texto! Obrigado Janga e Rodrigo!
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