Hugo Rubilar,
artista chileno que morou por vários
anos em Paris, radicou-se há várias décadas em Florianópolis, cidade que
escolheu para montar seu atelier.
Seu
temperamento extrovertido e sua personalidade original fazem com que sua presença performática destaque-se nos eventos dos quais participa.
Sua arte comprova o acerto da máxima de Millôr Fernandes que afirmava “o estilo
é o homem”.
Suas pinturas, goste-se ou não, são um fiel reflexo de sua
autêntica, leve e divertida maneira de ser.
Sociável
e festeiro, é presença assídua nos principais eventos socioculturais locais, sendo uma figura muito querida no
meio artístico da capital catarinense.
Sua enorme produção,
de caráter predominantemente gráfico,
consiste basicamente em pinturas estruturadas
a partir de planos de cores delimitados por
linhas. São essas linhas que funcionam como as principais geradoras das imagens,
e como organizadoras e definidoras do próprio espaço pictórico. Seu estilo tem
suas matrizes no movimento da Pop-Art
dos anos sessenta, revisitados e adaptados as suas próprias necessidades
expressivas.
No tratamento
divertido e bem humorado das imagens que
utiliza, nos harmônicos planos de cores chapadas, na inserção de textos e nos detalhes,
verificam-se similaridades com as soluções gráficas das histórias em
quadrinhos (HQ), dos desenhos de animação e do design publicitário.
Essa nova figuração
Neo-pop, que ao contrário da tradição das escolas
modernistas, que desenhavam a partir da
observação do modelo, utiliza imagens de terceira geração retiradas da mídia,
reflete sob medida a maneira de ser
do autor em cujas obras percebe-se também a descontração jovial dos grafites e
o humor dos cartuns.
Apoiadas estruturalmente
no traço, algumas de suas obras, pelo predomínio do desenho narrativo e pela importância secundária atribuída a cor, possuem
clima marcadamente anedótico. Nelas,
as linhas definidoras dos planos assumem o papel principal, e passam a ter o caráter de uma escrita orgânica,
que se faz no encontro das superfícies e corpos.
Com um traço
muito peculiar, seu desenho que flui de forma aparentemente espontânea, é ao
mesmo tempo simples, elaborado e sofisticado.
Tendo como
tema objetos e cenas do cotidiano, cria imagens divertidas e descoladas, não abrindo mão nem mesmo de alguns ícones neo-hippies como mandalas de elefantinhos,
peixes, flores, etc.
São muito
interessantes e divertidas suas pinturas de mesas postas com seus pratos e
talheres vistos de um plano aéreo. O vasto repertório das imagens que utiliza
inclui desde bicicletas, motos, animais domésticos, casais de namorados,
plantas exóticas como os cactos do deserto de Atacama até as prosaicas sandálias de dedo ou os
utensílios de cozinha que, reinterpretados por sua ótica particular, adquirem toda uma nova aura e poética visual.
Em suas obras mais representativas, composições
equilibradas, soluções gráficas,
elegantes e bem articuladas espacialmente, criam ritmos dinâmicos enriquecidos pelos contrastes
de planos de cores sensuais e vibrantes.
O tratamento
das superfícies, como acontece nos affiches, recorre a cores chapadas que
assumem totalmente a bidimensionalidade do
suporte, sem preocupações com profundidade e volume. Nos esquemas
cromáticos, predominam por vezes soluções monocromáticas, ou valores da
escala média de tons com suas nuances
suaves de cor e tonalidades pastéis.
Já outras obras mais ousadas, exploram os aspectos
ornamentais e sensoriais das cores de cromas
saturados, criando grandes planos de superfícies visualmente impactantes
recobertas de vermelhos, azuis ou amarelos luminosos.
Por vezes,
restringe-se basicamente ao preto e branco com pequenas notas de cor, acentuando
e exacerbando o grafismo e a síntese formal.
Em pinturas de
sua produção mais recente, Hugo adota um
tratamento diferenciado mais gestual e
solto, deixando fluir as pinceladas e libertando a cor das amarras do desenho.
Não dá ainda
para afirmar se seria o início de uma nova fase do artista, ou se trata apenas
de simples experimentações. O certo é
que revelam domínio do métier e abrem
amplas possibilidades de renovação, caso o artista decida trilhar caminhos
diversos daqueles que caracterizaram suas fases anteriores, mais voltadas para
linguagens próxima a ilustração.
Lirismo,
irreverência, descontração e humor, são elementos sempre presentes nas
criativas obras de Hugo Rubilar, cuja fluidez de formas e linhas
articuladas no espaço com requintado sentido gráfico e ornamental, expressam
com propriedade a singular personalidade artística do autor, propondo-nos compartilhar sua feérica alegria de viver.
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