fotos de Raquel Santi.
Paralelamente a antológica individual de Silvio Pléticos no
MASC inaugurada no ultimo dia sete, as Oficinas do CIC estão mostrando em sua galeria
uma coleção de pinturas de arte infantil executadas entre 1952 e 1959 por
crianças e adolescentes entre sete e catorze anos, nos cursos de arte infantil
que Pléticos ministrou na região de Istria,
enquanto ainda lecionava na Europa. A intenção dessa mostra além de homenagear
o mestre é ressaltar a atividade didática exercida por ele paralela a seu
trabalho individual de criação.
Leitor apaixonado dos livros de Franz Cizek, artista e arte
educador austríaco que aproximava o fazer artístico do ensino da arte
considerando-se um mediador, provocador e catalizador que tinha a liberdade de
expressão como fundamental, Cizeck que vai influenciar Herbert Read (outra
grande referencia para Pléticos), acreditava que a expressão assim como as
questões relativas a cada aluno deveria ser evidenciada no trabalho. Ele
estimulava a forma de olhar para o mundo com curiosidade e duvida com o
propósito de que a arte tivesse uma intenção política e apresentasse escolhas e
opções às crianças.
Assim que chegou a capital catarinense, Pléticos foi convidado
por Carlos Humberto Correa, então secretario de cultura, a ministrar cursos na
recém fundada Escolinha de Arte de Florianópolis. Essa escolinha fundada em 1963
era subordinada ao MAMF onde tinha sua sede, de inicio havia uma única
professora: Maria Helena Galotti, que tinha feito um estágio na Escolinha de
Arte do Brasil de Augusto Rodrigues no Rio de Janeiro. Com o crescimento da
escolinha foram contratados outros professores junto aos quais Pléticos
trabalhou repassando sua rica experiência pois sua formação incluía além da
pintura mural a arte educação,
Na individual de Pléticos no MASC, cuja curadoria nos coube,
buscamos ressaltar o caráter muralista de suas obras especialmente naquelas realizadas
com a técnica do esgrafito. A preocupação com a clareza da forma, com a síntese
e com a espacialidade ficam bem evidentes para quem apreciar o conjunto das
obras expostas. Outro aspecto que queríamos levantar em nossa curadoria, além do
caráter inovador de sua pintura para a época em termos de Santa Catarina, era a
importância da atuação didática de Pléticos que deu-se através dos diversos
cursos e oficinas que ministrou nas mais diversas regiões do Estado e de sua
passagem pela Escolinha de Arte de Florianópolis. A Escolinha teve importância
fundamental para a arte educação em Santa Catarina, diversos arte educadores
foram formados em suas oficinas que ampliaram-se até atingir todo o Estado. Na época
em que Pléticos passou pela escolinha ainda não existia a disciplina de educação
artística nos colégios, ela passou a existir somente a partir dos anos setenta.
Por essa época muita gente não só no interior mas também aqui na capital, achava
que a função da educação artística deveria ser ”ensinar” as crianças a pintar e
desenhar. Sob influencia dos padrões néo classicos das academias essa
mentalidade nefasta poderia ter sido totalmente letal não somente para a
educação artística e o ensino da arte mas para os próprios princípios
pedagógicos no Estado. Não fosse a
atuação inovadora das escolinhas em todo o país lideradas pela Escolinha de
Arte do Brasil de Augusto Rodrigues esse retrocesso bem poderia ter acontecido.
O importante papel da Escolinha de arte do MAMF para a
educação artística em Santa Catarina ainda está para ser melhor avaliado e
conhecido, quando isso acontecer sem
duvida a contribuição de Silvio Pléticos para a consolidação e aprimoramento
desse projeto modernista será
devidamente reconhecida.
Como Cizek Pléticos acreditava que as crianças e os jovens
podem desenvolver seu potencial natural sem submeter-se as regras métodos e
padrões impostos pelos adultos, e que se as experiências da vida forem
expressas pela arte , recupera-se a capacidade criadora da criança promovendo o
equilíbrio entre o pensar, o sentir e o perceber da vida na criança.
Criadas na década de cinquenta do século passado, portanto em
plena vigência do modernismo, as pinturas das crianças e jovens da Istria daquele período dialogam com a
visualidade modernista da época deixando-nos um belo e emocionante registro
visual de suas atividades criativas orientadas pelo querido mestre que é hoje
também precioso patrimônio dos catarinenses que o receberam e acolheram.