sábado, 3 de fevereiro de 2018

PLÉTICOS NO MASC – UM TOQUE DE MESTRE



painel da coleção do clube doze de agosto

Finalmente após tentativas infrutíferas de gestões anteriores, o MASC sob a gestão de Josué Matos e Edna de Marco, concretizara no próximo dia sete de fevereiro a tão aguardada individual de Silvio Pléticos.
Pela importância de sua obra e pelo que acrescentou ao fazer artístico em Santa Catarina trata-se de uma homenagem mais do que merecida.
Pela primeira vez serão apresentados exclusivamente os trabalhos executados com a técnica do esgrafiado. Praticamente todas as demais exposições de Pléticos misturaram as tradicionais pinturas figurativas pós-cubistas executadas com acrílico sobre tela, com os trabalhos esgrafitados de caráter mais analítico e conceitual.
O público poderá apreciar nesse conjunto de trinta e poucas obras selecionadas no atelier do artista e em coleções particulares, o nível atingido pelo artista nessa técnica que acabou sendo uma de suas marcas mais pessoais e diferenciadas.
Como afirmamos diversas vezes a obra de Pléticos renovou a pintura praticada em Santa Catarina, propondo um novo espaço pictórico em cuja síntese fundem-se as principais vertentes da arte da primeira metade do século vinte, tais como as componentes racionais do cubismo, o dramatismo expressionista e as imagens oníricas do surrealismo.
Pléticos nasceu em Pula em 1924, iniciou os estudos da pintura em 1940 em Milão com Afonso Guglielmi, diplomando-se mais tarde em Arte Aplicada em Zagreb onde também especializou-se em pintura mural. Por um período lecionou nas escolas da Istria, trabalhando a arte infantil com crianças e adolescentes, são deste período as cinquenta obras de arte infantil que serão mostradas ao público paralelamente a individual do MASC no espaço das Oficinas do CIC. Pléticos logo ao chegar a Santa Catarina em meados dos anos sessenta, criou nos fundos do MASC a primeira oficina de artes do Estado. Com seu entusiasmo pela questão da arte infantil, reciclou também a Escolinha de Artes que pertencia ao MASC, sob sua orientação a escolinha de Florianópolis obteve varias premiações sendo considerada por Augusto Rodrigues como uma das melhores escolinhas de arte do país.
Foi sob a influência de Pléticos e de sua paixão pela arte mural, que nos anos em que presidimos a ACAP trouxemos para a capital do Estado a lei municipal de Arte Pública, hoje uma realidade com um acervo de mais de trezentas obras de arte espalhadas pela cidade e considerada também paradigma nacional pela excelência da sua implantação e resultados.
Infelizmente por uma série de fatores, a cidade e o estado não souberam aproveitar a experiência muralista de Pléticos. O público que visitar a exposição "Pléticos - Espaço Geometria e Construção" poderá ter uma ideia da capacidade muralista do autor através dos dois grandes painéis gentilmente cedidos pelo Clube Doze que integram a mostra.

Painel Clube Doze

Esses painéis necessitaram de um trabalho de higienização e restauro que foi possível graças ao patrocínio do colecionador Marcelo Collaço, que além desse apoio emprestou também nove obras de Pléticos dos anos setenta, considerado um dos mais relevantes da sua produção.
 Nós todos sabemos das dificuldades que as instituições culturais enfrentam num pais onde a educação e a cultura são sempre deixadas em segundo plano, assim a única possibilidade para viabilizar projetos mais abrangentes é através da participação de empresários e cidadãos que tenham uma consciência cultural plena a respeito do seu papel na sociedade. Além de Marcelo Colaço a Galeria Helena Fretta também colaborou para a recuperação dos painéis que estão sendo mostrados ao público pela primeira vez fora das dependências do Clube Doze de Agosto.
Pléticos antes de residir em Santa Catarina lecionou na Faculdade de Artes Plásticas de Ribeirão Preto. Realizou coletivas e mostras individuais em Pula, Rovigno, Zagreb, Grado, Trieste, Nova Yorque, Rio de Janeiro, participou da Bienal de São Paulo e foi primeiro premio na mostra Istria Nobilissima em 1975.
O naturalismo humanista de Pléticos que os lombardos conheceram no inicio de sua carreira, transformou-se nos trágicos anos da guerra em expressionismo, que nos anos cinquenta funde-se a tendência racionalista do pós-cubismo. Apaixonado pela obra de Cezanne, Braque e Picasso, Pléticos ao mudar-se para o Brasil deixa-se impregnar pelo fascínio de um mundo para ele exótico, misterioso e insondável. Passam a emergir em suas obras metamórficas orgânicas e inquietantes sombras de um surrealismo solidamente apoiado em sua experiência sensível.

As técnicas mistas dos esgrafitos expostos nesta mostra evidenciam a maneira particular como o artista conseguiu sintetizar e fundir de forma coerente impactante e expressiva, componentes racionais do cubismo e do construtivismo a vertentes dramáticas do expressionismo ou oníricas do surrealismo.









Obras do acervo Marcelo Collaço, que integram a mostra do MASC - Pléticos - geometria espaço e construção

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