segunda-feira, 28 de maio de 2018

"Um pouco de historia: OS PRECURSORES DA CONTEMPORANEIDADE EM SC"

A comemoração dos setenta anos do MASC traz ao público um diversificado recorte da produção local contemporânea, numa próxima oportunidade comentaremos detalhes da mostra intitulada Desterro Desaterro, por ora vamos desaterrar algumas memórias do movimento ocorrido a partir dos anos setenta, movimentos que precederam o momento atual e que construíram as bases sobre as quais se assenta a produção atual da arte praticada em Santa Catarina.
As mudanças de paradigmas em qualquer setor não acontecem por acaso de uma hora para outra. No campo da arte não poderia ser diferente, assim o que podemos apreciar hoje é fruto do esforço de varias gerações, que a partir dos anos setenta foram criando pouco a pouco as bases que serviram de alicerce para os novos tempos que se anunciavam, de forma tímida na obra de alguns, de forma virulenta e impactante na de outros. 



“Parque de diversões” – Obra de Janga, que fazia parte, juntamente com o ‘Oratorio’ de Max Moura, da individual apresentada no hall do TAC em 1969. Essa obra, felizmente não destruída, faz parte atualmente do acervo do MASC


A luta não foi fácil muita coisa perdeu-se no esquecimento, mas o importante é que ficou decididamente para traz o anacronismo provinciano, que por muito tempo asfixiava qualquer tentativa de romper a inércia e o comodismo. A coisa estava num ponto que o próprio Harry Laus irritado com o que predominava na pintura local sugeriu num de seus textos que os artistas catarinenses deveriam se unir e abrir de uma vez uma quitanda, tal a profusão de naturezas mortas, vasos de flores, peixes, aves e coisas tais que predominavam. Quando não era isso o que se via nas telas eram casarios coloniais, retratos ou narrativas predominantemente anedóticas. Quem ousasse sair fora dos padrões era hostilizado ou simplesmente ignorado. Mesmo nos setores mais esclarecidos havia uma resistência muito grande em relação a obra aberta.



Capa do catalogo da exposição que foi censurada na galeria da então Radio diário da manhã e apresentada no hall TAC.


Gravura em metal de Max Moura, com mesmo tema – Varal – que inspirou sua intalação na mostra do teatro Carlos Gomes, em 1969


Lembro bem quando por ocasião de uma mostra nacional de escultura realizada por Lindolf Bell no Teatro Carlos Gomes de Blumenau, o escândalo que a obra exposta por Max Moura criou. Fomos a Blumenau eu Max e Romulo Azevedo para montar a instalação do Max que consistia num varal com camisetas do Flamengo, o detalhe é que a proposta de Max exigia que as camisetas estivessem molhadas. Assim logo que chegamos encharcamos as peças e montamos o varal, de repente surge furioso o curador da mostra exigindo que o Max desmontasse a obra, pois estava pingando nas esculturas de Vasco Prado.  A instalação só permaneceu graças a intervenção de Elke Hering que sugeriu que Max afastasse um pouco o varal para não interferir nas esculturas. Decidimos não ficar para a abertura pois não tinha clima, quando já  estávamos entrando no carro, o Bel veio correndo atrás dizendo que o Valmir Ayala, então crítico do Jornal do Brasil, queria falar com Max pois considerou seu trabalho a melhor peça exposta.
A coluna de Ayala no JB dedicou meia página ao trabalho do Max. Por essa época eu o Jayro Schmidt e o Max Moura criamos o Grupo Nossarte que incluiu também outro nomes, este foi o primeiro grupo pós moderno de SC ,como era um grupo com ideias próprias foi inevitável um certo choque com o que havia por aqui.


“Oratório” – Provavelmente o primeiro objeto da Arte Catarinense. Essa obra, doada ao MASC foi posteriormente queimada sobre a alegação de estar “infestada por cupins”.


Na sequencia fomos morar em São Paulo eu e o Max, o Jayro ficou por aqui ‘segurando a onda’ sozinho. Max antes de mudar-se doou ao MASC uma obra sua tridimensional que foi um dos primeiros objetos, senão o primeiro da arte catarinense. Alguns anos depois soubemos que o mesmo foi queimado, pois segundo o diretor do museu da época Aldo Nunes a peça estava com cupim. Provavelmente nem fotografaram a obra antes de destruí-la, e pelo que sei nem avisaram o autor que iriam queima-la. A obra consistia num grande oratório de madeira com fundo de espelho tendo em primeiro plano um manequim e uma rosa de plástico. Até hoje não entendi como deu cupim num objeto de plástico.

Esses episódios resgatados do tempo dão uma leve ideia do conservadorismo reinante, que não só  hostilizava claramente qualquer  tentativa de renovação que batesse de frente com  o que os mandarins locais preceituavam como arte, como fazia o possível e o impossível para impedir que novas propostas se afirmassem. Alguns poucos entendiam e apoiavam o que estávamos tentando fazer, como era o caso de Carlos Humberto Correia, Pericles Prade, Vecchieti e Pléticos, mas de maneira geral o que havia por aqui era uma sociedade totalmente refratária ao novo. O jeito era ir embora em busca de lugares mais oxigenados, praticamente todos o fizeram, alguns retornaram anos depois outros não, como foi o caso de Ivens Machado que só voltava para visitar seus familiares e até hoje, mesmo tendo sido um dos artistas nacionais de maior relevância,  jamais foi reconhecido em sua cidade natal.
Na década de oitenta, com o retorno para Santa Catarina de diversos artistas que tinham migrado para centros maiores do pais ou do exterior,  a classe artística organizou-se através das entidades recém criadas e foi feito todo um trabalho estratégico visando atualização da arte catarinense. Aconteceram a partir dai as primeiras mostras contemporâneas como as de arte postal, importante movimento da época, as primeiras instalações, mostras de arte na rua, vídeo-arte, out-doors, cursos de arte contemporânea as primeiras performances etc.


“ITACOATIARA” – Obra de Janga que fez parte da mostra INSTALARTE, a primeira mostra de instalações em Santa Catarina, apresentada na ACAP, no prédio da alfandega, no ano de 1985.


Começaram a surgir nomes que viriam a se firmar nacionalmente nos anos subsequentes. Por essa época existiam os salões e nossos artistas contemporâneos começaram a despertar a atenção da crítica nacional, ocorreram as primeiras premiações neste circuito. Essa verdadeira epopeia que merece um dia ser relatada em detalhes, culminou no inicio dos anos noventa com o Panorama do Volume mostra organizada pelo MASC dirigido então por Harry Laus. Laus tinha sido colocado a frente do MASC por reinvindicação dos artistas e não decepcionou, de formação basicamente modernista, teve de início uma certa dificuldade de entender o que estava sendo proposto. Num jornal ACAP intitulado “Retoque” declarou:
”No MASC tento fazer o possível para acompanhar o que Janga faz na ACAP”.


“ORUN” – Instalação de Janga premiada no 40º salão paranaense em 1983.


Inteligente, polemico, criativo, competente e sem medo de expressar sua opinião, logo passou a fazer parte do movimento de renovação que acontecia de forma irreversível tendo sido um dos seus principais incentivadores. O “PANORAMA DO VOLUME” que o MASC apresentou ao público em 1990 nasceu de conversas entre eu ele e Doraci Girrulat onde colocávamos sempre a necessidade de propor novos desafios aos nossos artistas. Não queríamos que a exposição programada fosse apenas mais uma mostra de escultura como estava planejado, queríamos tratar a questão da obra com limites borrados, nem escultura nem pintura: objeto. Harry argumentava que para ele tudo era objeto, depois de muita conversa chegou-se a um consenso e o nome Panorama do Volume foi proposto e aceito.


“Sagração da Primavera” – detalhe da instalação de Doraci Girulat, apresentada no MASC nos anos 90 e recentemente incluída na mostra de arte contemporânea catarinense no mesmo Museu.


A mostra foi um divisor de aguas e consolidou todo o esforço que vinha sendo desenvolvido no sentido de buscar uma linguagem menos defasada em relação ao que vinha se fazendo no resto do país.
Segundo a critica paranaense Adalice Araujo que veio visitar a exposição do MASC, a arte catarinense tinha atingido um nível que a colocava em pé de igualdade com o que de melhor estava sendo apresentado nas grandes mostras internacionais. Transcrevemos a seguir trechos do texto publicado na Gazeta do Povo de Curitiba na coluna de Artes Visuais de Adalice do dia 6 de janeiro de 1991.


No Museu de Arte de Santa Catarina o “Panorama Catarinense do Volume 90”
O critico de arte Harry Laus, diretor do museu de arte de Santa Catarina é o idealizador e curador do “Panorama Catarinense do Volume 90”. O projeto, dos mais arrojados, reúne 37 entre os mais representativos artistas da arte catarinense contemporânea.
A busca da contemporaneidade, a defesa da ecologia, o grande predomínio das instalações, constituem as principais características do panorama 90.
Graças a habilidade de uma eficiente curadoria, excelentes propostas como a de Janga, Jaime Reis, Adalto Althoff, Schwanke e Marcos Rück mantem a qualidade da mostra, esses artistas, propondo novos rituais não esquecem a lição de Kaprow “A linha de demarcação entre a arte e a vida deve ser conservada tão fluida quanto possível.” Suas obras são dignas de serem apresentadas tanto em grandes mostras nacionais quanto internacionais.
As várias propostas
FERNANDO LINDOTE – Logo no saguão interno do CIC uma instalação de Lindote adverte o espectador que aquela não é uma exposição comum: muito pelo contrario, a tentativa de renovação e muito enigma  estão no ar.
DORACI GIRRULAT – Ao se entrar na sala de exposições do MASC, a primeira proposta com que o expectador se depara é com “Penélope Noturna” de Doraci Girrulat. Servindo-se de uma tela metálica que – aludindo a rolos de urdidura – se enrola nos dois extremos de um suporte que funciona como mesa de tear e, embora esticada sobre a mesma, desfia-se na extensão entre essa e o chão; a autora revive a mitologia grega mesmo em plena era pós-industrial. Mesmo lançando mão de materiais gerados pela indústria é possível identificar na imagem por ela criada a foto de uma cesta sendo tranada com talas de arumã por uma índia Tukuna (AM), que Rita Caurio publicou em “Arte têxtil no Brasil”. Simplicidade e surpresa são o tônico de “Penélope noturna”, rica em simbologia.
ISABELA SIELSKI – Também intrigantes são os grandes e enigmáticos volumes cerâmicos de Isabela Sielski sugerindo o empacotamento de Man Ray ou “Quase corpos”.
JANGA (JOÃO OTAVIO NEVES FILHO) – O ponto alto do “Panorama Catarinense Volume 90” é atingido pela instalação “Shekinah”, seu autor que vem se notabilizando por conseguir traduzir em linguagem contemporânea a tradição ilhoa, aqui consegue não so propor um movimento vivo à ecologia, como transpor o local ao universal. Servindo-se de materiais nativos como folhas, serragem, bambu, papier mache e terra, ele assume a tecnologia cabocla. Penetrando a fundo na simbologia básica do triangulo e do Trimurti indiano Janga revive o ritual, o mito e o espaço. Ele da um raro exemplo de dominar a linguagem da instalação. Sem cair no anedótico e, por outro lado, sem obstruir os canais de comunicação com o espectador, o artista sabe preservar a poética e o necessário enigma.



“SHEKNAH” – Instalação de Janga que participou do panorama volume do MASC em 1990.

ELVO BENITO DAMO – assume o precário, a volta as origens. Em suas icônicas armações de madeira, presentifica totens ancestrais.
RUY CESAR BRAGA – em sua instalação “zona industrial”, o artista consegue unir um clima catastrófico à critica robotização imposta pela sociedade de consumo. Suas esculturas de metal ou bonecos metálicos são materialização de historia em quadrinhos temperada com Science Fiction.
ADALTO ALTHOFF – suas excelentes propostas que lembram os irônicos objetos de Paolo Ridolfi contem uma mitologia pessoal.
JAYME REIS – Sua instalação “Apetrechos Açorianos Deparáveis”, entre as mais interessantes obras desse panorama é digna de figurar ao lado de Janga através de objetos de objetos de madeira e utilizações de signos diversos ele recria com rara dignidade a memoria açoriana. As formas propostas de absoluta contemporaneidade são validas por si, sem necessidades de recorrer a subterfúgios.  
Mereceria um artigo a parte alguns entre os artistas convidados, como Luiz Henrique Schwanke, com original projeto constituído de 25 lâmpadas de mercúrio e espeto de churrasco comprovando a sua capacidade de trabalhar com energia cambiante como a luz, que consegue unir a geometria espacial; Berenice Gorini e seus têxteis, com sua capacidade de se impor por sua sacralidade ritual; Elke Hering, pelo profundo simbolismo que extrai da natureza; Marcos Rücke, sem esquecer as qualidades construtivas, consegue renovar a visão pós-moderna.”


Instalação de schwanke feita com luz, espetos de churrasco e reprodução de Caravaggio.

Sobre esse artigo de Adalice Araújo Harry Laus em sua coluna de artes plásticas do jornal o estado de 16 de janeiro de 1991 comentou:

"Aqui em Santa Catarina cuja arte Adalice conhece a fundo, ficaremos a dever-lhe mais esse brilhante trabalho, a ser acrescentado a importância do livro “Mito e Magia na Arte Catarinense” publicado por nosso governo em 1979."

Para os que estão chegando agora é bom saber que nem um de nós é o ponto zero da história e que as coisas que aí estão são frutos do trabalho de muitos. A renovação das artes visuais que partiu da capital espalhou-se pelas demais regiões do Estado, em Rio do Sul Lygia Neves deu importante contribuição estruturando a associação de artistas recém criada, assim como fez Edson Machado  em Joinvilhe, em Blumenau além da atuação didática da FURB e da Casa da Cultura, Elke Hering  e outros artistas continuaram desenvolvendo seus trabalhos, em Chapecó é criado um curso ligado a universidade regional, na produção artística do oeste  destacaram-se Sandra Abelo, Lenice Weissman,Elisa Iop e Ednei Brizot com um trabalho consistente e atualizado, em Lages Clenio Souza teve sua arte reconhecida nos salões locais, em ITAJAI Age Pinheiro Ane Kronbauer e outros ajudaram com sua atuação a  estruturar a Casa da Cultura e o curso universitário  de artes. Com a criação do Bacharelado de ARTES da UDESC e de outros cursos no Estado, a organização da classe artística nas décadas de  oitenta e noventa, assim como  com o circuito estadual dos salões estaduais que culminou com a criação do Salão Nacional Victor Meirelles, o movimento de renovação consolidou-se, deixando definitivamente trás os que se recusaram a acompanhar o trem da história. Atualmente com criação de diversos micro centro culturais e coletivos que a cada dia vão surgindo, principalmente na capital do Estado, as oficinas laboratórios e espaços expositivos vão mostrando o resultado dessa movimentação, muita coisa está sendo conquistada e o amadurecimento do setor é evidente, necessário porém é que os artistas não cruzem os braços, defendam conquistas já conseguidas e pressionem para que cada vez se ampliem  mais os horizontes e o alcance da arte feita em Santa Catarina. É necessário coragem paixão e persistência pois as forças retrógradas entricheiradas na breguice  no marasmo e na mediocridade, estão sempre de plantão tentando  inutilmente reconquistar o espaço e o berço esplendido onde dormitavam seus sonhos parnasianos.

domingo, 22 de abril de 2018

S.O.S MASC





Instituição cultural mais importante de Santa Catarina e com o maior reconhecimento nacional o MASC esta há tempos a merecer um reconhecimento maior da sua importância por parte da administração cultural do Estado. Sem dotação orçamentaria, sem autonomia administrativa, e a reboque de uma Fundação que nem sequer tem assento no colegiado, o MASC tem sido o filho pobre do governo e sobrevivido quase que por milagre. Atualmente a situação, se já não era das melhores, tornou-se praticamente insustentável. Só para se ter uma ideia, o museu não possui mais nem montadores, o ultimo que ainda continuava na ativa está licenciado e ira se aposentar quando encerrar a licença. Sem equipe técnica atualmente, apenas dois funcionários do setor de arte educação integram a equipe do museu que não inclui nem mesmo a figura básica de um museólogo. Responsável pela curadoria que divide com Édina de Marco, Josué Mattos fez milagres neste curto período em que esta a frente do MASC, em pouco tempo retomou o papel de liderança das artes visuais catarinenses, mostras de excelente nível norteadas sempre por um projeto curatorial coerente sucederam-se, colocando o MASC na agenda dos eventos culturais de importância nacional. Tudo foi feito dentro de uma situação de precariedade total, que em hipótese alguma é admissível tratando-se de uma instituição de tamanha importância para a cultura catarinense, como é o caso do MASC.

ASSIM COMO ESTÁ É IMPOSSÍVEL CONTINUAR.

Faz-se urgente e necessária uma mudança de atitude por parte do governo do Estado em relação a um dos museus de arte mais importantes do país.
Recentemente fui convidado para fazer a curadoria de uma individual do decano das artes catarinenses: Silvio Pléticos, sabendo das agruras financeiras do museu declinei do pró-labore para que essa importância, mesmo que  simbólica, pudesse ser utilizada na  impressão de um catálogo. Foi com o empenho de minha palavra de que o mesmo seria feito que consegui fazer Pléticos aceitar o convite, já que numa outra ocasião, quando o artista completou noventa anos, o museu convidou-o para expor e depois alegou não ter verba para fazer um simples catálogo. Fico preocupado pois até agora, já encerrada a mostra, não há nenhuma notícia sobre o cumprimento da promessa. Essa situação constrangedora de um museu de arte não ter condições sequer de fazer um simples registro digno da exposição de um dos artistas que mais contribuiu para a cultura visual do Estado, dá bem uma ideia do sufoco que a minguada equipe do MASC enfrenta no seu dia a dia.
Os artistas catarinenses, através de suas entidades de classe, têm o compromisso histórico e o dever de se manifestar, propondo e exigindo que o governo do Estado perceba finalmente a importância estratégica e vital do MASC para a arte e a cultura do nosso estado como um todo.
Quem visitar o MASC hoje poderá apreciar uma das mais importantes coletivas de artistas catarinenses realizadas pelo museu e ter uma visão do que uma gestão competente como a de Josué Mattos, mesmo sem ter as condições mínimas, pode fazer. Poderá muito mais se lhe forem dadas condições apropriadas.
Refazer os quadros, contratar uma equipe que preencha todas as necessidades para o pleno funcionamento do museu tornando-o habilitado à bem desempenhar as funções que lhe competem, bem como remunerar com dignidade o trabalho altamente qualificado de seus servidores é o mínimo que se pode esperar de um governo que encare com seriedade a cultura e a arte catarinense.

Estamos na terra do “já teve”, espero que não corramos o risco de que breve tenhamos que nos lamentar e dizer que já tivemos a frente do nosso museu de arte mais importante UM DOS CURADORES MAIS QUALIFICADOS DO PAÍS e nada fizemos para tentar mantê-lo no cargo.

POR FAVOR, ARTISTAS E PÚBLICO INTERESSADO: MEXAM-SE!

FAÇAMOS ISSO PELO FUTURO DA ARTE CATARINENSE.


quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

PLÉTICOS - ARTE COMO EXPRESSÃO DA LIBERDADE CRIADORA



fotos de Raquel Santi.

Paralelamente a antológica individual de Silvio Pléticos no MASC inaugurada no ultimo dia sete, as Oficinas do CIC estão mostrando em sua galeria uma coleção de pinturas de arte infantil executadas entre 1952 e 1959 por crianças e adolescentes entre sete e catorze anos, nos cursos de arte infantil que Pléticos ministrou na região de Istria, enquanto ainda lecionava na Europa. A intenção dessa mostra além de homenagear o mestre é ressaltar a atividade didática exercida por ele paralela a seu trabalho individual de criação.
Leitor apaixonado dos livros de Franz Cizek, artista e arte educador austríaco que aproximava o fazer artístico do ensino da arte considerando-se um mediador, provocador e catalizador que tinha a liberdade de expressão como fundamental, Cizeck que vai influenciar Herbert Read (outra grande referencia para Pléticos), acreditava que a expressão assim como as questões relativas a cada aluno deveria ser evidenciada no trabalho. Ele estimulava a forma de olhar para o mundo com curiosidade e duvida com o propósito de que a arte tivesse uma intenção política e apresentasse escolhas e opções às crianças.
Assim que chegou a capital catarinense, Pléticos foi convidado por Carlos Humberto Correa, então secretario de cultura, a ministrar cursos na recém fundada Escolinha de Arte de Florianópolis. Essa escolinha fundada em 1963 era subordinada ao MAMF onde tinha sua sede, de inicio havia uma única professora: Maria Helena Galotti, que tinha feito um estágio na Escolinha de Arte do Brasil de Augusto Rodrigues no Rio de Janeiro. Com o crescimento da escolinha foram contratados outros professores junto aos quais Pléticos trabalhou repassando sua rica experiência pois sua formação incluía além da pintura mural a arte educação,


Na individual de Pléticos no MASC, cuja curadoria nos coube, buscamos ressaltar o caráter muralista de suas obras especialmente naquelas realizadas com a técnica do esgrafito. A preocupação com a clareza da forma, com a síntese e com a espacialidade ficam bem evidentes para quem apreciar o conjunto das obras expostas. Outro aspecto que queríamos levantar em nossa curadoria, além do caráter inovador de sua pintura para a época em termos de Santa Catarina, era a importância da atuação didática de Pléticos que deu-se através dos diversos cursos e oficinas que ministrou nas mais diversas regiões do Estado e de sua passagem pela Escolinha de Arte de Florianópolis. A Escolinha teve importância fundamental para a arte educação em Santa Catarina, diversos arte educadores foram formados em suas oficinas que ampliaram-se até atingir todo o Estado. Na época em que Pléticos passou pela escolinha ainda não existia a disciplina de educação artística nos colégios, ela passou a existir somente a partir dos anos setenta. Por essa época muita gente não só no interior mas também aqui na capital, achava que a função da educação artística deveria ser ”ensinar” as crianças a pintar e desenhar. Sob influencia dos padrões néo classicos das academias essa mentalidade nefasta poderia ter sido totalmente letal não somente para a educação artística e o ensino da arte mas para os próprios princípios pedagógicos  no Estado. Não fosse a atuação inovadora das escolinhas em todo o país lideradas pela Escolinha de Arte do Brasil de Augusto Rodrigues esse retrocesso bem poderia ter acontecido.
O importante papel da Escolinha de arte do MAMF para a educação artística em Santa Catarina ainda está para ser melhor avaliado e conhecido, quando isso acontecer sem duvida a contribuição de Silvio Pléticos para a consolidação e aprimoramento desse projeto modernista será devidamente reconhecida.
Como Cizek Pléticos acreditava que as crianças e os jovens podem desenvolver seu potencial natural sem submeter-se as regras métodos e padrões impostos pelos adultos, e que se as experiências da vida forem expressas pela arte , recupera-se a capacidade criadora da criança promovendo o equilíbrio entre o pensar, o sentir e o perceber da vida na criança.
Criadas na década de cinquenta do século passado, portanto em plena vigência do modernismo, as pinturas das crianças e jovens da Istria daquele período dialogam com a visualidade modernista da época deixando-nos um belo e emocionante registro visual de suas atividades criativas orientadas pelo querido mestre que é hoje também precioso patrimônio dos catarinenses que o receberam e acolheram.





quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

NAMBLÁ XOKLENG - OPORTUNA REFLEXÃO


Monica Nador e Namblá Gakran, no interior da claraboia. Foto de Márcio H. Martins

As relações que se estabelecem de imediato entre o observador e a intervenção NAMBLÁ XOKLENG de MONICA NADOR & JAMAC na Claraboia do MASC, ao mesmo tempo em que propiciam uma percepção nova da arquitetura do espaço montado pela artista e sua equipe, criam com o impacto da cor negra que reveste as paredes, uma atmosfera solene de reflexão e recolhimento. Observando melhor a trama gráfica das superfícies pintadas, ficam visíveis as formas negras das pinturas corporais dos Xokleng. Aplicadas sobre um fundo de pinceladas gestuais entrelaçadas, cujo efeito gráfico sugere vagamente as tramas dos trançados em palha dos povos da floresta, as pinturas em forma de módulos repetem-se por toda a extensão das paredes, definindo o espaço e conferindo grande unidade ao conjunto. O impacto visual dessa proposta gera fluxos de energia que transformam a claraboia numa caixa de ressonância de vozes ancestrais dos XOKLENG habitantes seculares da Mata Atlântica. O protesto e a indignação da artista contra o genocídio das nações indígenas está muito bem expresso nesta obra, que sem retórica nem discursos denuncia o crime infame cometido no último dia primeiro do ano contra o professor formado pela UFSC Marconde Namblá da Terra Indígena La Klãna de José Boiteux no vale do Itajaí. Esse professor barbaramente assassinado era um dos raros estudiosos de sua língua natal e estava trabalhando num projeto de edição de um dicionário xokleng. A indiferença e alienação a respeito das questões indígenas e dos povos excluídos de maneira geral, fica patente em casos como esse que passam quase despercebidos pela mídia e pelo público acostumado a ignorar o que considera que não lhe diz respeito.

Marconde Namblá - o lider Xokleng assassinado no dia 1 de janeiro de 2018

Muita gente nem sabe que existem comunidades indígenas em nosso Estado e muito menos que os Xoklengs  e os Kaingang fazem parte de nossa população.
Espoliados de todos os seus direitos, humilhados e desrespeitados, esses cidadãos entregues a sua própria sorte e considerados de segunda classe pelo sistema, vão sendo cada dia mais vilipendiados e aniquilados por uma sociedade que insiste em ignora-los. Habitantes seculares da mata atlântica ainda não tiveram suas terras delimitadas, o processo jurídico que lhes daria o direito de ocuparem uma terra que sempre foi sua arrasta-se há décadas. Apesar de serem os donos legítimos da terra são vistos como intrusos, pois todo um processo que considera o vale onde habitam como “o vale europeu” acha que aquela região não é “terra de índio”, e o etnocídio continua...
A artista Monica Nador ao deslocar-se do seu centro de atuação para Santa Catarina o faz numa ocasião bastante oportuna levantando uma questão trágica e gravíssima sobre a qual a sociedade não pode se omitir nem ignorar.
Monica nos anos oitenta destacou-se por suas telas de grande formato onde se fundiam pinceladas soltas a superfícies profundamente trabalhadas, a partir da década de noventa passou a desenvolver um trabalho em comunidades, utilizando como suporte de suas pinturas não mais as tradicionais telas mas a própria parede das casas.
Passando a residir nos próprios locais onde desenvolve seu trabalho, integrou-se no dia a dia dessas comunidades aprofundando suas relações com os moradores, com os quais passou a criar suas pinturas murais a partir de motivos decorativos  encontrados no próprio local.
Utilizando estêncil de acetato recortado com as formas e grafismos escolhidos, a pintura é executada sobre as paredes das próprias casas transformando-as e acrescentando-lhes novos valore s e significados.



Essas intervenções além do seu caráter estético possuem um cunho político social de grande relevância e potencia transformadora.
O processo de execução da montagem feita na Clarabóia do MASC foi praticamente o mesmo.  Inicialmente a equipe da JAMAC formada por moradores da comunidade do Jardim Miriam localizado nos subúrbios da capital paulista, revestiu  as paredes da claraboia com papel reproduzindo pinceladas gestuais em preto e branco. Sobre essa superfície foram aplicadas com estêncil de acetato signos geométricos das pinturas corporais Xokleng sempre utilizando a cor preta. O resultado final é imponente tal a riqueza visual do entrecruzar das formas negras sob cujas tramas se percebe a luz proveniente do fundo branco do papel.
A atmosfera do ambiente com seu caráter algo litúrgico aponta para antigos rituais e para a grandiosidade e beleza de uma cultura trucidada por atos de brutal violência, exemplificados pelo assassinato cruel de uma de suas principais lideranças. Por motivos torpes Marcondes Namblá foi morto a pauladas de forma brutal e cruel
O silencio de todos nós torna-nos cumplices hipócritas deste e de tantos outros assassinatos que vem acontecendo a cada dia de jovens de comunidades excluídas sem que nada façamos.
Sem abrir mão da sua linguagem pessoal Monica Nador através das suas propostas e intervenções demonstra como é possível criar situações e estratégias para que a arte contemporânea possa inserir-se no dia a dia das pessoas comuns exercendo com  propriedade seu papel político e social.
A Nação Xokleng no silencio e no vazio do interior da intervenção NAMBÁ XOKLENG nos observa, nos acorda e nos incita a agir não só defendendo a beleza da sua cultura mas transformando-nos em defensores de seus direitos e da dignidade do que ainda lhe resta.
Durante a abertura da mostra Namblá Grakran membro da comunidade Xokleng falou sobre a importância de ser preservada a cultura e a língua de seu povo da qual ele é também professor.
No próximo dia dezenove de abril a instalação NAMBLÁ XOKLENG será palco de uma cerimonia ritual da nação XOKLENG em memória de seu líder assassinado.



sábado, 3 de fevereiro de 2018

PLÉTICOS NO MASC – UM TOQUE DE MESTRE



painel da coleção do clube doze de agosto

Finalmente após tentativas infrutíferas de gestões anteriores, o MASC sob a gestão de Josué Matos e Edna de Marco, concretizara no próximo dia sete de fevereiro a tão aguardada individual de Silvio Pléticos.
Pela importância de sua obra e pelo que acrescentou ao fazer artístico em Santa Catarina trata-se de uma homenagem mais do que merecida.
Pela primeira vez serão apresentados exclusivamente os trabalhos executados com a técnica do esgrafiado. Praticamente todas as demais exposições de Pléticos misturaram as tradicionais pinturas figurativas pós-cubistas executadas com acrílico sobre tela, com os trabalhos esgrafitados de caráter mais analítico e conceitual.
O público poderá apreciar nesse conjunto de trinta e poucas obras selecionadas no atelier do artista e em coleções particulares, o nível atingido pelo artista nessa técnica que acabou sendo uma de suas marcas mais pessoais e diferenciadas.
Como afirmamos diversas vezes a obra de Pléticos renovou a pintura praticada em Santa Catarina, propondo um novo espaço pictórico em cuja síntese fundem-se as principais vertentes da arte da primeira metade do século vinte, tais como as componentes racionais do cubismo, o dramatismo expressionista e as imagens oníricas do surrealismo.
Pléticos nasceu em Pula em 1924, iniciou os estudos da pintura em 1940 em Milão com Afonso Guglielmi, diplomando-se mais tarde em Arte Aplicada em Zagreb onde também especializou-se em pintura mural. Por um período lecionou nas escolas da Istria, trabalhando a arte infantil com crianças e adolescentes, são deste período as cinquenta obras de arte infantil que serão mostradas ao público paralelamente a individual do MASC no espaço das Oficinas do CIC. Pléticos logo ao chegar a Santa Catarina em meados dos anos sessenta, criou nos fundos do MASC a primeira oficina de artes do Estado. Com seu entusiasmo pela questão da arte infantil, reciclou também a Escolinha de Artes que pertencia ao MASC, sob sua orientação a escolinha de Florianópolis obteve varias premiações sendo considerada por Augusto Rodrigues como uma das melhores escolinhas de arte do país.
Foi sob a influência de Pléticos e de sua paixão pela arte mural, que nos anos em que presidimos a ACAP trouxemos para a capital do Estado a lei municipal de Arte Pública, hoje uma realidade com um acervo de mais de trezentas obras de arte espalhadas pela cidade e considerada também paradigma nacional pela excelência da sua implantação e resultados.
Infelizmente por uma série de fatores, a cidade e o estado não souberam aproveitar a experiência muralista de Pléticos. O público que visitar a exposição "Pléticos - Espaço Geometria e Construção" poderá ter uma ideia da capacidade muralista do autor através dos dois grandes painéis gentilmente cedidos pelo Clube Doze que integram a mostra.

Painel Clube Doze

Esses painéis necessitaram de um trabalho de higienização e restauro que foi possível graças ao patrocínio do colecionador Marcelo Collaço, que além desse apoio emprestou também nove obras de Pléticos dos anos setenta, considerado um dos mais relevantes da sua produção.
 Nós todos sabemos das dificuldades que as instituições culturais enfrentam num pais onde a educação e a cultura são sempre deixadas em segundo plano, assim a única possibilidade para viabilizar projetos mais abrangentes é através da participação de empresários e cidadãos que tenham uma consciência cultural plena a respeito do seu papel na sociedade. Além de Marcelo Colaço a Galeria Helena Fretta também colaborou para a recuperação dos painéis que estão sendo mostrados ao público pela primeira vez fora das dependências do Clube Doze de Agosto.
Pléticos antes de residir em Santa Catarina lecionou na Faculdade de Artes Plásticas de Ribeirão Preto. Realizou coletivas e mostras individuais em Pula, Rovigno, Zagreb, Grado, Trieste, Nova Yorque, Rio de Janeiro, participou da Bienal de São Paulo e foi primeiro premio na mostra Istria Nobilissima em 1975.
O naturalismo humanista de Pléticos que os lombardos conheceram no inicio de sua carreira, transformou-se nos trágicos anos da guerra em expressionismo, que nos anos cinquenta funde-se a tendência racionalista do pós-cubismo. Apaixonado pela obra de Cezanne, Braque e Picasso, Pléticos ao mudar-se para o Brasil deixa-se impregnar pelo fascínio de um mundo para ele exótico, misterioso e insondável. Passam a emergir em suas obras metamórficas orgânicas e inquietantes sombras de um surrealismo solidamente apoiado em sua experiência sensível.

As técnicas mistas dos esgrafitos expostos nesta mostra evidenciam a maneira particular como o artista conseguiu sintetizar e fundir de forma coerente impactante e expressiva, componentes racionais do cubismo e do construtivismo a vertentes dramáticas do expressionismo ou oníricas do surrealismo.









Obras do acervo Marcelo Collaço, que integram a mostra do MASC - Pléticos - geometria espaço e construção

sábado, 27 de janeiro de 2018

MENOR QUE MEU SONHO NÃO POSSO SER: Memórias do Homem de Argila Crua

Fotos da matéria: Matheus Rosa
Essa citação de um poema do saudoso Lindolf Bell, aplica-se sob medida ao que está acontecendo no Centro Cultural Nau Catarineta, de Santo Antônio de Lisboa.
No pequeno e aconchegante espaço transformado no Bachus Cavea (plateia de Baco), Luiza Lorenz, com espírito empreendedor e capacidade inigualável de vencer  dificuldade, lançou-se de corpo e alma na realização de seu sonho, e a realidade ai está: Praticamente do nada surgiu um dos espaços cênicos mais deliciosos da ilha. Numa pequena construção localizada no fundo do  quintal da Casa Açoriana ali está funcionando a pleno vapor  a concretização de um sonho. Construído com as vigas seculares de madeira (linhas) do antigo sobrado que já recebeu numa gloriosa manhã a visita do imperador D Pedro ll, em sua visita a Sto. Antônio em 1845, a casinha com suas paredes de tijolo aparente pintadas de preto manteve apenas a empena atrás do palco com os tijolos de terracota na cor natural do barro. Na parede lateral de frente para quem entra, dois painéis construídos  com garrafas verdes ou azuis funcionam como um original vitral Preenchidas com lâmpadas de pisca-pisca, criam efeitos de grande beleza lembrando as propostas da arte cinética.
Assim é o BACCHUS CAVEA, simples, austero, mágico e com a cara do que tem de melhor nessa ilha dos casos raros.
Para inaugurar a temporada do teatro de Sto. Antônio, nada melhor que o espetáculo do repertório do Cia Aérea MEMÓRIAS DO HOMEM DE ARGILA CRUA, que  apresenta ao público de maneira poética  e cativante a vida e a obra do nosso maior mitólogo Franklin Cascaes, cujas pesquisas extrapolaram o meio acadêmico e acabaram por rebatizar sua terra natal como a ILHA DA MAGIA. Esse espetáculo que estreou em Buenoe Aires onde foi montado, é, sem dúvida, uma das mais bem sucedidas abordagens da obra de CASCAES.  Com um grupo de atores afinadíssimos, que no palco executam movimentos precisos e interpretações inesquecíveis, a montagem, com seu ritmo feérico, chega a parecer uma dança tal a precisão das marcações quase coreográficas. É um espetáculo divertido, poético e bastante profundo em suas reflexões que incluem citações de Ortega y Gasset e de outros pensadores entremeadas a pensamentos do próprio Cascaes a respeito da vida e da arte.
A montagem começa e termina com o som das marolas que embalam a ilha, os atores como que despertando de um sonho  vão aos poucos mostrando  ao público através de suas falas quem foi Cascaes. Reproduções perfeitas de suas peças em cerâmica são mostradas, reproduzindo os principais personagens arquetípicos da ilha. De um  antigo baú vão sendo retiradas as figuras mitológicas das bruxas medievais e a peça ganha todo  um clima mágico bruxólico que permanecera até o final. Além das bruxas, são apresentadas aos espectadores as obras gráficas inspiradas no mito dos boitatás. Os desenhos deslumbrantes de Cascaes vão sendo pendurados num varal,  colocado ao fundo do espaço cênico, servindo de cenário, juntamente com as peças cerâmicas que ficaram apoiadas nas malas e caixas,  principais objetos cênicos das quais saem inclusive as ervas medicinais expostas num  sugestivo mostruário que lembra antigas estampas de boticários.
Tudo neste espetáculo foi pensado com extremo requinte e sensibilidade e o resultado não poderia ser outro. Memórias de um Homem de Argila Crua é uma verdadeira obra prima que enaltece a cultura da Ilha de Santa Catariana naquilo que ela tem de melhor e mais genuíno. O espetáculo permanecerá em cartaz todos os sábados de janeiro e fevereiro, às 20.30 horas no teatro   BACCHUS CAVEA,  que faz parte do Centro Cultural NAU  CATARINETA, ancorada  ao lado da CASA AÇORIANA de Sto. Antônio de Lisboa.
Quem ama nossa ilha  ou quem quer conhecê-la melhor, não deve perder sob nenhum pretexto!  Pena que nossas autoridade em geral sejam tão alienadas e cegas em relação a arte e a cultura, pois esse espetáculo deveria ser apresentado em todas as escolas e colégios da ilha para que nossas crianças e jovens conhecessem a riqueza que temos em nossas origens.
Mas já é pedir demais, pois  só um milagre poderia abrir os olhos dessa gente no poder..Da nossa parte fazemos o que podemos e o que está ao nosso alcance. Luiza, tirando praticamente do nada, fez surgir esta  NAU. Com apoio magnânimo de seu tio Tales Biesczad montou a estrutura básica do teatro que teve também apoio de membros da comunidade de Sto Antônio, como por exemplo do amigo Aldo Pereira,  que fez voluntariamente toda a instalação elétrica da casa. São gestos assim  que fazem possível os sonhos virarem realidade. Cascaes e sua obra estão sendo mostradas no lugar certo, temos certeza de que ele ficaria muito feliz e realizado se visse como sua obra continua viva e plena de significados. Movidos pela paixão e pelo amor ao teatro Luiza, Margo e Egon, os três magníficos atores da peça, levam o público ao cerne da obra desse genial criador que ao propor o triunfo  do imaginário e da sensibilidade nos acena com uma possibilidade de não naufragarmos em meio a tanta apatia e mediocridade .
EVOÉ BACO  -  CANTEMOS COM LINDOLF BELL, CASCAES E CIA AÉREA: MENOR QUE MEU SONHO NÃO POSSO SER!





domingo, 14 de janeiro de 2018

ROBSON LEAL – LUZ FORMA E FUNÇÃO.




Quem visitar a Galeria da Casa Açoriana nesta temporada de verão, irá surpreender-se com os trabalhos de autoria do designer Robson Leal.
Nascido em Tijucas, ele já expôs suas peças no Shopping Iguatemi onde vendeu quase a totalidade da mostra. Suas criações não são simplesmente luminárias, mas sim obras de arte surreais que unem o utilitário a uma mirabolante criatividade que apaixona, surpreende e encanta ao primeiro olhar. A beleza e originalidade dessas luminárias construídas através de encaixes de materiais reciclados garimpados em ferro velhos, depósitos de usados, e nas andanças do autor pelo mundo, expressa com sua estética out-sider nada convencional, o imaginário do artista, sua insatisfação com as prosaicas limitações do cotidiano e sua busca de elaborar uma linguagem própria que descubra novos significados para coisas já existentes. 
A arte é sem dúvida o meio mais eficiente para ressignificar coisas, objetos e a própria existência, e foi a ela que Robson se dedicou de corpo e alma nestes dois últimos anos para encontrar sua própria resposta para esse não sentido do dia-a-dia banal. As inventivas criações desse insólito designer são assemblages que misturam diversos elementos interconectados de forma inusitada. O resultado dessas montagens são composições de grande coerência, unidade formal e surpreendente beleza.
O gosto do autor pela botânica transparece em alguns detalhes que sugerem formas orgânicas como gavinhas, sementes, flores, troncos e galhos retorcidos. Esses materiais acoplados a lâmpadas, especialmente selecionadas, criam o clima das peças que se organizam espacialmente, criando ritmos e linhas harmônicas e elegantes. No espaço da Galeria a meia luz, as formas destacam-se ainda mais pelas luzes coloridas das originalíssimas luminárias, criando uma atmosfera divertida, lúdica e magica.





Com seus detalhes inumeráveis, que incluem antigas peras, tubos de ensaio, barômetros, peças de bijuteria, pesos de vidro, sementes, controles remotos, mecanismos de relojoaria, contadores manuais, dimers e toda uma inimaginável parafernália de peças, o conjunto escultórico funciona como uma lúdica e poética instalação luminosa que celebra o triunfo da imaginação, da criatividade e do talento: