segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Arte Pública e a Qualificação do Espaço Urbano

         A polêmica criada com a intervenção feita na montagem que, ao lado da entrada principal da cidade, pretende homenagear a cultura açoriana, merece algumas considerações: 
      Há alguns anos, participei, no Centro Integrado de Cultura,  de uma comissão julgadora que tinha como objetivo escolher e premiar a melhor proposta para criação de um marco que homenageasse a imigração açoriana no estado. 
     Dentre os trabalhos recebidos pela comissão constatou-se que apenas uma proposta possuía qualidade suficiente para realizar um projeto de tal envergadura. Os demais concorrentes, por não terem as condições mínimas necessárias,  foram simplesmente desclassificados.
     O trabalho escolhido e premiado foi  a proposta da artista Doraci Girrulat, que, numa linguagem contemporânea, criou uma obra a partir de estruturas curvas  de metal cujas formas escultóricas em três módulos vazados sugeriam sutilmente o desenho das velas das naus. 
     A superfície desses módulos, obtida através de tramas de aço, em alguns pontos criava recortes que remetiam  às tramas dos crivos, rendas e bordados ilhéus. Essa escultura foi pensada para ser colocada ao ar livre, junto a cabeceira da nova ponte. Seria uma referência para a cidade e uma digna homenagem aos que a colonizaram. 
     Porém, por motivos puramente pecuniários, os promotores do evento, num desrespeito total a decisão do júri, optaram por mandar erigir uma obra de custo menor, que não tinha sequer sido classificada.
     Uma obra de arte não se justifica apenas pelas intenções do autor, mas sim pelo resultado que ele consegue obter na estruturação formal de sua proposta. O que colocaram ali é ingênuo, bisonho e altamente comprometedor. A cidade, que poderia ter em seu acervo de arte pública uma obra do porte da proposta premiada, acabou ganhando um 'presente de grego'. 
     Temos uma comissão de arte púbica, que vem tendo uma atuação altamente gabaritada. Essa comissão deveria ser consultada não só sobre esse assunto, mas sobre a colocação de qualquer obra em espaços públicos, pois não se justifica que os mesmos sejam invadidos por trabalhos que nada acrescentam ao nosso acervo de arte pública, que está sendo construído com critérios bastante claros.      
     Ainda é tempo de desfazer o equívoco e remediá-lo. Atualmente, existe um fundo municipal de arte pública, e esse poderia, quem sabe, ser utilizado para concretizar-se a proposta de Doraci, com a qual o povo e a cultura açoriana seriam homenageados a altura da importância da contribuição que nos legaram. 



3 comentários:

  1. As comissões acabam sempre como massa de manobra de governos ridículos e despreparados para dizer o mínimo sem perder a elegância. São homens com pouca ou sem nenhuma formação artística; sobretudo mal intencionados. Não realizar o que foi referendado pela comissão; além de ser um desrespeito total com os profissionais que lá deliberaram; fica consumado a utilização dos mesmos como massa de manobra para impor a não arte no espaço público; apenas mais um artefato de concreto desses que a gente vê nas cidadezinhas do interior concedidos pelo Rotary. Triste. Lamentavelmente triste. A arte a serviço da política menor.

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  2. As comissões acabam sempre como massa de manobra de governos ridículos e despreparados para dizer o mínimo sem perder a elegância. São homens com pouca ou sem nenhuma formação artística; sobretudo mal intencionados. Não realizar o que foi referendado pela comissão; além de ser um desrespeito total com os profissionais que lá deliberaram; fica consumado a utilização dos mesmos como massa de manobra para impor a não arte no espaço público; apenas mais um artefato de concreto desses que a gente vê nas cidadezinhas do interior concedidos pelo Rotary. Triste. Lamentavelmente triste. A arte a serviço da política menor.

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