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| Instalação de objetos  trançados com fibras vegetais - Berenice Gorini | 
      Desde os
tempos de Cruz e Sousa foi assim! Sem reconhecimento em sua terra natal, teve que
enfrentar o calvário que todos conhecem. Ainda hoje, mesmo com o reconhecimento
internacional de sua genialidade, não é valorizado como merece em seu Estado,  que deveria ao menos ter  o texto de um de seus imortais sonetos
reproduzidos em suas praças e jardins, 
até seu busto de bronze roubaram 
sem que ninguém desse a mínima por desconhecerem, por certo, sua
importância. Seus restos mortais, trazidos com toda a pompa do Rio de Janeiro
onde se encontravam, jazem esquecidos ali no palácio que leva seu nome. O
memorial  que seria construído para
abrigá-los, virou uma ruína abandonada sem condições de cumprir a função para a
qual foi construído.
Esses não são
fatos isolados,  em seu conjunto falam do
menosprezo  com que nossa memória é
tratada. É através da criação artística que transparece a alma de um povo, assim
ao não valorizarmos o legado artístico de nossos artistas, estamos eliminando
também possibilidades  de um conhecimento
mais profundo de nós mesmos.
Os exemplos deste
descaso são muitos. Citemos o caso de Ivens Machado. Recentemente, o Museu de
Arte Moderna do Rio montou uma grande retrospectiva  desse que foi um dos artistas
contemporâneos  mais importantes do  país! Por aqui, nem uma única individual dele
foi feita  enquanto vivia e Santa
Catarina praticamente desconhece   sua obra.
Considerado
pela Fundação Bienal de São Paulo, como um dos três artistas catarinenses mais
importantes da história da arte brasileira, Ivens só não teve seu talento
reconhecido em sua terra natal.
Vontade dele
de mostrar aqui seu trabalho não faltou, chegou a falar com um governador que
por sinal era seu parente, mas de nada adiantou.  Os argumentos 
para não trazerem suas obras, que foram mostradas nos principais centros
culturais do país,   foram os mesmos de
sempre: falta de verba. Mas sempre 
existe dinheiro sobrando para árvores de natal subterrâneas,  corridas de autódromo  e coisas e tais. A cultura para os néscios
nunca é uma prioridade, e quando ela é pensada é  sempre de uma maneira equivocada e vão direto
para o KITSCH, para o qual nunca falta patrocínio!
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| Berenice Gorini e detalhes de suas tapeçarias tridimensionais | 
O ESQUECIMENTO,
QUANDO SE TRATA DE MEMÓRIA CULTURAL, É UMA FORMA DE PUNIÇÃO. Vejamos outro
caso: Berenice  Gorini, artista
catarinense do sul do Estado, foi uma das primeiras tapeceiras brasileiras a
encarar a tridimensionalidade. Desenvolveu 
uma ampla pesquisa  sobre as
técnicas tradicionais dos trançados em palha do litoral catarinense, sobre as
quais publicou um livro. Sua obra,  exposta
no Museu de Arte de São Paulo e  no Museu
Nacional de Belas Artes, faz parte do acervo do Museu de Arte do Rio Grande de
Sul que orgulhosamente a inclui entre as obras mais relevantes do acervo. Pois
bem, recentemente  foi publicado o
segundo volume do livro “Construtores das Artes Visuais”,  uma das raras 
edições que abordam  a arte catarinense.  O nome de Berenice Gorini não foi incluído.
Segundo  um dos membros da comissão que
selecionou os nomes para fazerem parte da edição, o nome de Berenice foi citado
mas não foi escolhido porque os demais membros não sabiam de quem se tratava. É
bem possível que tenha sido assim,  pois seu  trabalho apesar da sua consagração nacional,  é praticamente desconhecido em SC,  justamente pelos motivos que nos fizeram
escrever mais esse texto. Texto  incômodo  mas necessário,  pois talvez assim, um dia, as coisas mudem um
pouco.
É urgente  que se criem condições  de organizar retrospectivas que circulem pelo
Estado e  permitam aos catarinenses
conhecerem  a obra de seus artistas mais
relevantes. São também fundamentais  itinerâncias
de mostras da  produção
contemporânea  de nossos artistas mais jovens.
Essa política
deve ser liderada pelo MASC,  ao qual
devem ser dadas condições de apoio para que possam ser realizadas.
Santa Catarina
é constituída de ilhas culturais, que não se intercomunicam!
Lembro-me de certa ocasião, em
que fomos a Chapecó, eu e o então diretor do MASC, acompanhar uma mostra
itinerante, e  ouvimos  da plateia 
que participava de um debate a procedente acusação:  -Vocês lá de Florianópolis estão de frente
para o mar e de costas para Santa Catarina!
Considerando
que Florianópolis sedia o Governo Estadual, 
é fácil avaliar o quanto essa acusação é grave.   Somos uma das maiores economias do país, isso
todo mundo sabe,  o tratamento  dispensado à sua cultura e à sua arte deve ser
sério,  competente e proporcional à
importância que o Estado possui nacionalmente.
Quando isso
acontecer (esperamos que seja o quanto antes), talvez nossos políticos também
deixem de ter uma  importância apenas
regional. As duas coisas andam juntas, um Estado se afirma em termos nacionais
não só pelo seu PIB,  mas principalmente
pela forma como trata sua arte e sua cultura, as mais legítimas expressões de  sua alma.
Como nossos
textos anteriores deixaram  perceber, é
exatamente o contrário que está acontecendo. 
Tratando a cultura de forma leviana e irresponsável, entregando   os cargos mais estratégicos de sua gestão  nas mãos de quem não possui as mínimas
condições de exercê-los, estamos cada vez mais cavando o fosso profundo que nos
afasta da civilização e nos aproxima cada vez mais da barbárie.  Sob todos os aspectos é triste, patético,
trágico e profundamente lamentável.
Santa Catarina
não merece tamanho deboche. Vamos torcer para que as
coisas mudem e tomem  um rumo menos
deprimente....
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| Obra de Berenice Gorini, pertencente ao acervo do MASC. | 
| Objetos de Berenice Gorini, executados na técnica de trançado de fibras vegetais. | 
 
Ótimo texto do Janga sobre a triste realidade da falta de reconhecimento dos artistas catarinenses.
ResponderExcluirQuando, fora de Santa Catarina, digo que nosso estado não tem secretaria de Cultura, assim como também não tem secretaria de Turismo, as pessoas me olham como se eu estivesse mentindo.
ResponderExcluirProdutores - e consumidores - culturais e artísticos precisam encontrar uma forma de unir seus esforços para pressionar os políticos eleitos com maior intensidade.
Belo texto! E se estende para todas as artes, temos um problema serio de identidade cultural em Santa Catarina.No cinema é a mesma coisa. Pouco se valoriza, se destaca e se reconhece aqui em SC>
ResponderExcluirE assim caminha a desumanidade ,sem cabeça e sem vontade ....
ResponderExcluirNão evolui em nada,,,o Estado criou uma máquina de alavancar votos que borrou toda a tentativa de fazer e reconhecer a cultura local! Parece um castelo fortemente armado em que não temos nenhum acesso, triste!
ResponderExcluirInfelizmente esta triste realidade se faz em todo Brasil, aqui no Paraná não é diferente, pessoas são colocadas em cargos sem a menor noção do que estão fazendo lá e assim caminha a desumanidade.
ResponderExcluirBelíssimas Obras!
ResponderExcluirBrilhante e certeiro. Pena que a quem este é dirigido, encarará como mais um mi mi mi de artista. Às favas!
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