domingo, 23 de abril de 2017

PLÉTICOS: os 93 anos do mestre, que nos anos 60, traz a Santa Catarina, através da sua obra, uma nova concepção do espaço pictórico.

     

         Trazendo para Santa Catarina em meados dos anos sessenta,  os ecos tardios da revolução cubista, Silvio Pléticos introduz, aqui no Estado, uma nova concepção do espaço pictórico, que ajudou a romper de vez com a tradição da narrativa linear descritiva predominante,  e a criar os alicerces para a renovação da plasticidade catarinense  que ocorreria nos anos subsequentes e se consolidaria nos anos oitenta.
O ambiente provinciano que reinava por aqui assistia então, assustado, ao aparecimento da primeira geração pós-moderna que dava seus primeiros passos. Pléticos  foi  na época, um dos únicos  interlocutores dessa geração, uma vez que havia uma resistência muito grande por parte do público,  e mesmo por parte dos artistas já estabelecidos, a qualquer tentativa de romper com a tradição da figuração lírica predominante, que era vista como a única  possível.
Pléticos introduz na pintura catarinense a técnica da passage,  que conduz o olhar a diferentes áreas da pintura, e ao mesmo tempo  que cria um sentido de profundidade, chama a atenção para a superfície da tela que projeta-se no espaço do observador.
Esses métodos ‘Cezanescos’ de retratar três dimensões recorrendo a múltiplas perspectivas, construindo formas a partir de diferentes planos que parecem deslizar ou passar um através do outro, já eram coisas do passado devidamente incorporadas  na tradição modernista, mas que na  prática jamais haviam sido exercitados  por aqui.
Na verdade, a rejeição da perspectiva  limitada a um único ponto de vista com sua representação ilusionista do espaço,  que predominou na arte ocidental desde o renascimento,  só foi encarada pelo cubismo,  cujos métodos revolucionários foram os catalizadores para boa parte dos movimentos que renovaram a arte da primeira metade do século vinte.

A atuação de  Pléticos foi portanto fundamental no sentido de estimular  nossos artistas  a romperem com a defasagem histórica e o anacronismo reinantes que engessavam a criatividade e desencorajavam a pesquisa.
Pléticos enfatizou sempre a importância da informação, do conhecimento profundo da história da arte, da reflexão e do pensamento analítico,  imprescindíveis para a compreensão das propostas contemporâneas.
Sua obra assenta-se sobre as tradições da pintura ocidental dentro das quais elaborou sua própria linguagem.
Num determinado período de sua carreira, impossibilitado de continuar  expressando-se através da técnica da pintura a óleo, recorreu aos grafitos  que  transitam entre o desenho e a pintura e que lembram os processos da gravura em metal.
Nos grafitos,  ele dá sua versão pessoal do desafio de Picasso  de representar  três  dimensões na superfície bidimensional da tela,  e do desejo de Braque de explorar a pintura de volume e da massa no espaço.
Estruturadas a partir de formas  interpenetrantes, em que a linha tem a função principal, as composições ousadas e monumentais dos grafitos de Pléticos  equilibram-se em seu conjunto através de detalhes que acentuam os efeitos visuais. O emprego de camadas superpostas de formas planas, cria simultaneamente uma sensação de algum espaço na frente do quadro e desloca outro espaço mais para o fundo. A distinção entre a profundidade pintada e a profundidade literal cai por terra, conferindo um sentimento arquitetônico, como se  a pessoa enxergasse as coisas tanto no plano como em elevação.
Essas são algumas questões estruturais básicas, que aportando  por aqui com a presença física das obras de Pléticos, refletiram melhor o clima intelectual que permeava as buscas  contemporâneas.
Propondo novas vivências espaciais, esses grafitos com sua concentração maior e distinta das outras fases do artista, fazem com que o olhar seja captado, deslize e se apoie em obras cujos desdobramentos propiciam, segundo a maneira com que o espectador as interrogue, uma sensível ampliação de suas percepções.
Circulando em meio a uma lógica espacial dinâmica e em interminável transformação, essas obras exploram as mais diversas articulações estruturais, levando ao limite suas possibilidades plástico-expressivas.
Refletem de modo particular o mundo no qual transcorre nossa  existência temporal.












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