Trazendo para Santa Catarina em
meados dos anos sessenta, os ecos
tardios da revolução cubista, Silvio Pléticos introduz, aqui no Estado, uma
nova concepção do espaço pictórico, que ajudou a romper de vez com a tradição
da narrativa linear descritiva predominante, e a criar os alicerces para a renovação da
plasticidade catarinense que ocorreria
nos anos subsequentes e se consolidaria nos anos oitenta.
O ambiente
provinciano que reinava por aqui assistia então, assustado, ao aparecimento da
primeira geração pós-moderna que dava seus primeiros passos. Pléticos foi na época,
um dos únicos interlocutores dessa
geração, uma vez que havia uma resistência muito grande por parte do público, e mesmo por parte dos artistas já
estabelecidos, a qualquer tentativa de romper com a tradição da figuração
lírica predominante, que era vista como a única
possível.
Pléticos
introduz na pintura catarinense a técnica da passage, que conduz o olhar
a diferentes áreas da pintura, e ao mesmo tempo que cria um sentido de profundidade, chama a
atenção para a superfície da tela que projeta-se no espaço do observador.
Esses métodos ‘Cezanescos’
de retratar três dimensões recorrendo a múltiplas perspectivas, construindo
formas a partir de diferentes planos que parecem deslizar ou passar um através
do outro, já eram coisas do passado devidamente incorporadas na tradição modernista, mas que na prática jamais haviam sido exercitados por aqui.
Na verdade, a rejeição
da perspectiva limitada a um único ponto
de vista com sua representação ilusionista do espaço, que predominou na arte ocidental desde o
renascimento, só foi encarada pelo
cubismo, cujos métodos revolucionários
foram os catalizadores para boa parte dos movimentos que renovaram a arte da
primeira metade do século vinte.
A atuação de Pléticos foi portanto fundamental no sentido
de estimular nossos artistas a romperem com a defasagem histórica e o
anacronismo reinantes que engessavam a criatividade e desencorajavam a
pesquisa.
Pléticos
enfatizou sempre a importância da informação, do conhecimento profundo da
história da arte, da reflexão e do pensamento analítico, imprescindíveis para a compreensão das
propostas contemporâneas.
Sua obra assenta-se
sobre as tradições da pintura ocidental dentro das quais elaborou sua própria
linguagem.
Num
determinado período de sua carreira, impossibilitado de continuar expressando-se através da técnica da pintura a
óleo, recorreu aos grafitos que transitam entre o desenho e a pintura e que
lembram os processos da gravura em metal.
Nos grafitos, ele dá sua versão pessoal do desafio de
Picasso de representar três dimensões
na superfície bidimensional da tela, e
do desejo de Braque de explorar a pintura de volume e da massa no espaço.
Estruturadas a
partir de formas interpenetrantes, em
que a linha tem a função principal, as composições ousadas e monumentais dos
grafitos de Pléticos equilibram-se em
seu conjunto através de detalhes que acentuam os efeitos visuais. O emprego de
camadas superpostas de formas planas, cria simultaneamente uma sensação de
algum espaço na frente do quadro e desloca outro espaço mais para o fundo. A
distinção entre a profundidade pintada e a profundidade literal cai por terra,
conferindo um sentimento arquitetônico, como se
a pessoa enxergasse as coisas tanto no plano como em elevação.
Essas são
algumas questões estruturais básicas, que aportando por aqui com a presença física das obras de
Pléticos, refletiram melhor o clima intelectual que permeava as buscas contemporâneas.
Propondo novas
vivências espaciais, esses grafitos com sua concentração maior e distinta das
outras fases do artista, fazem com que o olhar seja captado, deslize e se apoie
em obras cujos desdobramentos propiciam, segundo a maneira com que o espectador
as interrogue, uma sensível ampliação de suas percepções.
Circulando em
meio a uma lógica espacial dinâmica e em interminável transformação, essas
obras exploram as mais diversas articulações estruturais, levando ao limite
suas possibilidades plástico-expressivas.
Refletem de
modo particular o mundo no qual transcorre nossa existência temporal.
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